27 de maio de 2010

COPA 2010: DUNGA, FRIEZA NA DESPEDIDA




Dunga é frio com Lula na despedida

Autor(es): Tânia Monteiro e Rafael Moraes Moura

O Estado de S. Paulo - 27/05/2010



Na passagem da seleção brasileira por Brasília antes do embarque para a África do Sul, o técnico Dunga, demonstrando impaciência, não sorri nem tira a mão esquerda do bolso ao ser cumprimentado pelo presidente Lula. Em 2008, o presidente fez críticas públicas à seleção, o que irritou o técnico. Os jogadores, no entanto, tiveram atitude bem diferente. Eles foram levados por dona Marisa a conhecer as dependências do palácio e tiraram fotos do local.

Os elogios públicos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à convocação do time para a Copa da África do Sul e a calorosa recepção governista ao elenco no Palácio da Alvorada não foram suficientes para que Dunga demonstrasse amabilidade e simpatia a Lula. Ao contrário.

O comportamento do técnico da seleção brasileira, com cara de impaciência e mãos no bolso enquanto Lula cumprimentava efusivamente Robinho e Kaká, chamaram a atenção e causaram constrangimento ao presidente da República. O treinador não sorriu e manteve a mão esquerda no bolso até no momento de cumprimentar Lula.

Os gestos frios de Dunga diante de câmeras fotográficas e de televisão devem correr o mundo. Não é novidade, porém, o fato de o técnico não nutrir grande simpatia por Lula. Em 2008, o presidente fez críticas públicas à seleção e irritou o técnico gaúcho, que o atacou durante uma preleção com os atletas - flagrada pelo Estado (leia ao lado).

Os jogadores, no entanto, tiveram atitude bem diferente. Foram levados por D. Marisa a conhecer as dependências do palácio e tiraram fotos do local, como se fossem os tradicionais turistas que visitam a residência oficial, depois de comer pastéis e beber sucos. Todos compareceram ao evento, menos Lúcio e Maicon, que foram diretamente de Milão, onde jogam, para Johannesburgo.

Depois de posar para fotos com os jogadores na frente da Alvorada, Lula se reuniu com o time e disse que falava, naquele momento, não como presidente da República, mas como um dos 190 milhões de brasileiros que se consideram técnicos e entendidos de futebol. Lembrou que os jogadores são "idolatrados" pela população e que todos os times entram na Copa com o desejo de ganhar do Brasil. Lula desejou que a seleção regresse vitoriosa ao País, mas observou que, se a conquista não ocorrer, os atletas não terão o valor diminuído.

A seleção fez uma "escala técnica" em Brasília antes de seguir para a África do Sul. O ministro do Esporte, Orlando Silva, que acompanhou o encontro dos jogadores com o presidente, declarou que Lula destacou a "confiança no grupo", que o técnico Dunga "montou uma equipe forte e coesa" e que "o Brasil vive um momento mágico". Acrescentou ainda que todos devem ter confiança de que tudo dará certo. "Confio na seleção e sei que os atletas vão dar o máximo de si", afirmou Lula. De acordo com relato do ministro, o presidente avisou que estará presente na final da Copa, em 11 de julho. Lula justificou que, como o Brasil organizará a próxima Copa do Mundo, precisa estar lá "para receber o bastão".

Na entrevista depois do encontro de Lula com os jogadores, Orlando Silva declarou que há 40 anos a seleção não ia a Brasília para se despedir de um presidente da República antes de embarcar para a Copa. O ministro disse que o presidente já demonstrou que é "pé-quente" e a prova disso é que "trouxe não só a Copa como a Olimpíada para o Brasil".

Orlando Silva não acredita que o resultado do Mundial tenha efeito nas eleições de outubro. "A seleção brasileira está acima de partidos. Isso não tem efeito político. Todos vão torcer pela equipe", declarou o ministro, que cometeu um ato falho ao responder se uma possível derrota da seleção poderia prejudicar o desempenho da candidata petista, Dilma Rousseff. "A derrota é boa", afirmou, corrigindo em seguida seu ato falho. "A derrota não. A vitória do Brasil. Está todo mundo torcendo."

PARA LEMBRAR

Não é a primeira vez que Dunga mostra falta de empatia com Lula. Numa preleção do técnico em setembro de 2008, duas horas e meia antes do início da partida contra o Chile, em Santiago, pelas Eliminatórias, atacou o presidente como forma de motivar os jogadores. Na ocasião, a conversa foi flagrada com exclusividade pelo repórter Sílvio Barsetti, do Estado. "Aí vem um f.d.p. e diz que falta sacrifício a vocês", gritou Dunga, na sala reservada do Hotel Sheraton. O Brasil acabou vencendo a partida por 3 a 0. Dias antes, depois de algumas atuações fracas, o presidente da República havia declarado que a seleção precisava seguir o exemplo dos argentinos e ter mais empenho em campo. Dunga não foi o único que se irritou. "Acho que ele deveria renunciar, ir para a Argentina e virar argentino", disse o goleiro Julio Cesar na época.

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