28 de maio de 2010

LULA AUTÊNTICO LIBERAL E FALSO PROFETA




Autor(es): Agencia O Globo/Carlos Larreátegui

O Globo - 28/05/2010




Ao final de oito anos de mandato, Luiz Inácio Lula da Silva deixará a Presidência do Brasil em dezembro. Contra todos os prognósticos que asseguravam que Lula levaria o Brasil à completa prostração e ruína, este presidente deixa um legado substantivo na política, na economia e na diplomacia. Para muitos, Lula simboliza o triunfo do socialismo moderno, da denominada Terceira Via, que rechaça os postulados do liberalismo comunista. Alguns, como meu amigo e professor Enrique Ayala, sustentam que Lula manteve uma postura socialista por sua radical luta contra a pobreza. Contrariando essa visão, sustento que Lula é um autêntico liberal na política e na economia e que dificilmente poderíamos encontrar na História do Brasil um presidente mais favorável ao mercado e ao setor privado. O caso de Lula reforça a teoria de que a Terceira Via não é mais que uma ficção e que ao final prevalece a dicotomia mercado-planejamento, com todas suas variáveis.

O liberalismo político, desde os tempos de seus fundadores - Locke, Montesquieu e outros--, significa "império da lei", Estado constitucional e liberdade política. Historicamente, é o único sistema, ideologia, práxis, engenharia ou como queiramos chamá-lo, que tem passado da teoria à prática sem traições nem capitulações. Lula reforçou os elementos do liberalismo político no Brasil respeitando o Estado constitucional garantidor, a independência de poderes, particularmente dos juízes, e elevou a segurança jurídica ao nível de valor social incontestado. Muito dificilmente poderia um liberal ortodoxo fazer melhor nesta área.

Na economia, Lula tem sido um dos defensores mais vigorosos da economia de mercado. Em uma entrevista recente realizada por Juan Luis Cebrián, do "El País" (Espanha), Lula afirma haver construído um capitalismo moderno que, na sua visão, representa o passo prévio ao socialismo. Ninguém levaria muito a sério esta teoria. O correto é que Lula acertou ao prosseguir e aprofundar as políticas econômicas do seu predecessor, o "neoliberal" Fernando Henrique Cardoso, e dessa forma conseguiu acumular êxitos maiúsculos: o nível de pobreza caiu de 46% em 1990 para 26% em 2008; a dívida externa declinou para 4% do PIB; as exportações se multiplicaram em 500%.

No plano internacional, Lula tem sido tudo, menos um democrata e defensor dos direitos humanos. Em nome do socialismo, tem justificado os atropelos e abusos de regimes como os de Cuba, Venezuela ou Irã descompromissados com a sorte de seus povos. Lula tem sido um no Brasil e outro muito diferente fora do país. Essa dupla moral é incompatível com o perfil de um autêntico líder e claramente debilita seu legado histórico.

Em síntese, Lula tem sido um grande presidente para o Brasil e um falso profeta para o mundo.


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