30 de maio de 2010

NÃO, NÃO É TODO MUNDO IGUAL


VEJA

REINALDO AZEVEDO


domingo, 30 de maio de 2010

Na sexta-feira, a Folha de S. Paulo escreveu um editorial cobrando mais clareza dos candidatos sobre temas que considera — e que também considero — relevantes. Poderia ter rendido um bom texto, mas o editorialista acabou se perdendo um tantinho. Direi por quê.

Um jornal, um articulista ou u debatedor não podem chamar de “indefinição”, “omissão” ou algo parecido o que é uma discordância. O juízo que iguala os desiguais é serviço prestado à injustiça. Encontro no texto o que segue:
Não se espera, por certo, que candidatos tenham resposta pronta para toda e qualquer questão. Mas tudo faz crer que o silêncio dos candidatos se deve menos a algum tipo de indecisão de ordem pessoal, e mais a uma arraigada cultura da intransparência e do subterfúgio, especialmente notável na política brasileira.
Pode-se argumentar que, no estágio atual de desenvolvimento do país, questões mais urgentes estão na pauta. A tese não se sustenta, por vários motivos.
As mortes de mulheres em casos de aborto desassistido, por exemplo, configuram uma tragédia de grandes proporções - e não há eufemismo que exima os candidatos de considerá-la em suas implicações substantivas.

Como se nota acima, o texto está se referindo ao aborto. Observem que a Folha, contrariando o espírito anunciado do editorial, não está censurando os candidatos por conta dos “subterfúgios” e da “intransparência”, mas porque eles não disseram aquilo que ela quer ouvir e porque não convergiram para a sua tese, favorável à legalização do aborto.

Serra e Marina já foram claríssimos a respeito: defendem a lei como está hoje — o aborto é permitido em caso de risco de morte da mãe e de estupro; em breve, o STF deve “legalizar” a interrupção da gravidez no caso de fetos anencéfalos. A única ambígua nesse tema é Dilma. Há entrevistas suas defendendo a legalização. O “Plano Nacional-Socialista de Direitos Humanos”, que passou pela Casa Civil, que ela chefiava, tinha feito do aborto um “direito humano”. O governo recuou. Recentemente, de olho nas urnas, a petista decidiu defender a lei como está… Ela até virou devota da Nossa Senhora de Forma Geral!!!


Os candidatos tucano e verde não são ambíguos coisa nenhuma! Ele já foi ministro da Saúde e nunca encaminhou esse debate. Ela, tornada a preferida da “descolândia”, merece meu particular respeito porque não traiu sua convicção para fazer as vontades do seu eleitorado. Falta coragem à Folha para censurar a hipocrisia da petista? Dilma, sim, era pró-aborto há dois anos; agora, ela acredita que é preciso discutir o assunto…

O editorial fala da “morte de mulheres em caso de aborto desassistidos”. Pois é! Esse é um dos grandes mitos plantados pela militância abortista, tornada verdade absoluta e inquestionável. Cadê os números? Desafio a Folha a exibi-los. Não vai porque não os tem. Porque ninguém os tem. Inexiste essa notificação nos hospitais. Essa é uma “verdade” criada pelo lobby dos grupos que defendem a legalização do aborto no país, incluindo o Ministério da Saúde de Temporão.

Fala-se em 1,5 milhão de abortos provocados no país, com até 250 mil mortes de mulheres. É uma estupidez! A população brasileira estaria condenada à extinção. Teríamos, em breve, de importar mulheres!!!

Vamos ver: nascem, por ano, 2,8 milhões de crianças no país, e os abortistas dizem que há 1,5 milhão de abortos provocados. Somados, temos aí 4,3 milhões de gestações. Estudos apontam que 25% das gestações terminam em abortos espontâneos. Logo, aqueles 4,3 milhões perfariam 75% do total de gestações, que chegariam a 5,73 milhões. Vão acompanhando… Se, num universo de 5,73 milhões, nascem 2,8 milhões, e, se há 1,5 milhão de abortos provocados, 1,43 milhão deles seriam espontâneos. E estaríamos, então, diante da realidade fabulosa e única no mundo de um país que tem mais abortos provocados do que espontâneos. É uma boçalidade!

A Folha precisa se conformar com o fato de que nem todos os candidatos concordam com ela nessa questão do aborto — e certamente em outras tantas. Não é indefinição, ambigüidade ou algo assim: é divergência mesmo.

O editorial diz também que os três candidatos não foram claros sobre a política externa. Não?! Foram, sim! Serra e Marina já deixaram claro que autodeterminação de países não se confunde com o endosso a ditaduras e conivência com governos que desrespeitam os direitos humanos. Dilma diz estar com o Itamaraty para o que der e vier — o que, entendo, significa o endosso às ditaduras.

Decretar que todo mundo é igual é um conforto para os editoriais. Mas pode não espelhar a realidade dos fatos. Decretar que todo mundo é igual pode ser só uma tática de parecer crítico com todo mundo para não se queimar com ninguém. Em situações assim, o pior sempre sai ganhando. Vale dizer: decretar que todo mundo corresponde a privilegiar o pior.

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