22 de maio de 2009

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NENÊ CONSTANTINO FORAGIDO DA JUSTIÇA
Por Renato Alves - Correio Braziliense - 22/05/2009

Acusado de mandar matar dois homens, fundador da Gol e dono da maior frota de ônibus do país tem prisão preventiva decretada, mas não é localizado. Outros três envolvidos nos crimes acabam detidos

Acusado de mandar matar dois homens e de ferir outro, o empresário Constantino de Oliveira, 78 anos, o Nenê Constantino, é considerado foragido desde o fim da tarde de ontem — não havia sido localizado pela polícia até as 22h. O fundador da Gol Linhas Aéreas e outras três pessoas tiveram a prisão preventiva decretada por um juiz de Taguatinga. O trio foi surpreendido em casa por agentes da Polícia Civil do Distrito Federal. Entre eles, Victor Foresti, genro e sócio de Nenê no grupo Planeta — o maior conglomerado de transportes urbanos da capital — e vice-presidente do Setransp, o sindicato das empresas do setor. Constantino é apontado como mandante dos crimes. Todos os casos ocorreram em 2001 e têm como motivo a disputa por um terreno em Taguatinga Norte. Foresti acabou preso sob acusação de subornar testemunhas. Os outros detidos são os motoristas aposentados João Alcides Miranda, 61, e Vanderlei Batista Silva, 67. Ambos trabalhavam para o fundador da Gol e, segundo as investigações, receberam ordens dele para executar as vítimas. Vanderlei Silva hoje é vereador em Amaralina (GO), mas fazia a segurança de Constantino na época dos assassinatos. A ordem para prender os acusados partiu, no começo da tarde de ontem, do juiz Almir Andrade Freitas, do Tribunal do Júri de Taguatinga. “Há prova de materialidade e indícios mínimos de autoria colhidos pela prova indiciária, capaz de possibilitar a instauração de ação penal e abertura da primeira fase judicial, motivo pelo qual recebo a denúncia, pois encontram-se os requisitos legais”, escreveu o magistrado, em despacho assinado às 12h36. O juiz se referiu à denúncia do Ministério Público do DF, baseada em investigação da Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida), da Polícia Civil brasiliense. “O caso está encerrado desde 28 de abril. Para nós, não há dúvida do envolvimento de cada um”, afirmou o delegado Luiz Julião Ribeiro, chefe da Corvida. Ele ressaltou ainda que considera Constantino um foragido da Justiça. “A partir do momento em que não o encontramos em casa, no trabalho, a família foi informada da ordem de prisão e ele não se apresentou, passou a ser foragido”, afirmou o delegado. Emboscada O indiciamento do fundador da Gol ocorreu em 10 de dezembro de 2008 por conta da morte de Márcio Leonardo de Sousa Brito, 27 anos. O crime se deu em 12 de outubro de 2001, no terreno próximo à antiga garagem da Viação Pioneira — uma das empresas do Grupo Planeta —, na QI 25 de Taguatinga. Mário era líder dos cerca de 100 moradores do lugar. Levou três tiros ao ser atraído para uma emboscada. Na manhã seguinte, advogados de Constantino retiraram os moradores do local. Os chefes de cada família receberam R$ 500. O grupo ocupava a área desde 1990. Nenê movia ação de despejo contra eles. Constantino acabou indiciado novamente em 30 de dezembro último. Dessa vez, pela morte do caminhoneiro Tarcísio Ferreira, 42, assassinado em 9 de fevereiro de 2001. Um pistoleiro o atacou nas proximidades da garagem da Pioneira. É o mesmo local onde, oito meses depois, Márcio morreria. As disputas começaram depois que um ex-empregado do grupo Planeta vendeu lotes fracionados no terreno da Pioneira. Constantino o autorizou a morar de favor no tal prédio, mas não a negociá-lo — o ex-funcionário morreu de cirrose, um ano após o assassinato de Márcio. As mortes, de acordo com a Corvida, começaram assim que o empresário tentou retirar os moradores. Houve ameaças e incêndios criminosos. O primeiro homicídio, o de Tarcísio, teria sido um alerta para os demais invasores. Desentendimento O caminhoneiro morreu com quatro tiros e na frente da filha de 4 anos. O pintor José Amorim dos Reis sobreviveu a dois disparos — teria sido atingido por engano, pois estava ao lado do alvo principal. Ambos tinham 42 anos à época da emboscada, ocorrida por volta das 19h, em uma barraca de sanduíches e bebidas, no terreno onde funcionava a garagem da Viação Pioneira. Segundo a investigação, Tarcísio trabalhou como motorista de ônibus da Planeta. Deixou a empresa após se desentender com Constantino por atraso de pagamentos. Prestava serviço como terceirizado. Testemunhas contaram que João Alcides Miranda — preso ontem — estava no trailer onde ocorreu o assassinato. Ele teria dito “Tarcísio” logo depois que um jovem magro, de 1,65m, chegou e pediu um refrigerante. O grito, para a polícia, seria era a senha para o pistoleiro identificar a vítima. Os agentes da Corvida concluíram que Nenê Constantino mandou matar Tarcísio com base nos exames de balística do Instituto de Criminalística. As balas que atingiram as duas vítimas são similares às que saíram do revólver calibre .38 usado na execução de Márcio Brito. Segundo a polícia, João Miranda — outro preso ontem — serviu de referência para que as execuções dessem certo. O líder comunitário, por exemplo, recebeu um comunicado de que Constantino o visitaria mais uma vez. A mensagem, dada justamente por Miranda, indicava que o empresário pagaria R$ 2 mil para cada dono de barraco deixar o local. A história, porém, não passava de armação. Após Márcio de Sousa Brito ser executado, em 12 de outubro de 2001, o advogado da Planeta foi ao local e entregou R$ 500 ao dono de cada barraco. Em seguida, a máquina derrubou todas as moradias. A movimentação no dia seguinte revelou indícios da participação de Constantino e dos dois empregados no episódio. Tratamento O empresário Nenê Constantino é representado pelo advogado Marcelo Bessa, de Brasília. O defensor afirmou ontem ao Correio que a família entrou em contato ontem e ainda precisa de tempo para estudar o caso. Acrescentou que o fundador da Gol passa por tratamento de saúde. Evitou, no entanto, detalhar qual seria a doença que acomete o acusado. Também disse que o cliente não pode ser considerado foragido da Justiça, pois talvez nem saiba do pedido de prisão preventiva expedido contra ele pelo Tribunal do Júri de Taguatinga. Em nota, a assessoria de imprensa de Constantino e de Victor Foresti limitou-se a informar que “Nenê Constantino, que está em São Paulo desde quarta-feira para tratamento de saúde, não faz parte do conselho nem do corpo executivo da empresa Gol Linhas Aéreas.”
Colaborou Guilherme Goulart
Quem é quemO suspeito O empresário Constantino de Oliveira, o Nenê Constantino, fundou a Gol Transportes Aéreos no início de 2001. A empresa começou a operar com quatro aviões e hoje é a segunda maior do mercado aéreo brasileiro — atrás da TAM. É ainda proprietário da maior frota de ônibus do país. Apenas a Planeta, que opera linhas urbanas no DF, tem mais de mil veículos. Mora na capital desde 1977. Também dono do terreno onde funcionava a garagem da antiga Viação Pioneira, na QI 25 de Taguatinga, é procurado por mandar matar dois então invasores do local e ferir outro. Os presos
Vanderlei Batista Silva, 67, fazia a segurança pessoal de Constantino. Segundo a Corvida, contratou o pistoleiro responsável pelas mortes das duas vítimas.
João Alcides Miranda, 61, se passou por morador e vigilante da invasão para levantar informações sobre as lideranças. Teria atraído uma das vítimas para armadilha e identificado outra para o pistoleiro.
Victor Foresti é genro e sócio de Nenê no grupo Planeta e vice-presidente do Setransp, o sindicato das empresas do setor. Acabou preso sob acusação de subornar testemunhas durante a investigação. As vítimas
Márcio Leonardo de Sousa Brito, 27, atuava como líder dos mais de 100 moradores do terreno onde funcionava a garagem da Pioneira. Todos haviam comprado lotes fracionados por ex-empregado do grupo Planeta, que Constantino autorizara a morar lá de favor. Morto com três tiros em outubro de 2001.
O caminhoneiro Tarcísio Gomes Ferreira, 42, levou quatro tiros em 9 de fevereiro de 2001. Havia trabalhado como motorista de ônibus da Planeta e largou a profissão depois de se desentender com o ex-patrão. O assassinato ocorreu em um trailer próximo à garagem da Pioneira.
José Amorim dos Reis, 49, também morava na invasão e acabou atingido por dois tiros por estar próximo de Tarcísio no momento dos disparos. Sobreviveu.

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