22 de maio de 2009

CUBA REVIVE PESADELO DA CRISE E AMEAÇA DE APAGÕES


Por Mauricio Vicent - O Globo - 22/05/2009

Falta de liquidez causa atraso de pagamentos e governo pede que população economize energia
A crise volta a disparar alarmes em Cuba. Esta semana, as autoridades advertiram que se não for freado o consumo elétrico poderão voltar a ocorrer os apagões, símbolo dos tempos mais difíceis que o país viveu após o desaparecimento da União Soviética. A falta de liquidez é de novo asfixiante: há meses afeta o funcionamento de bancos, provoca atrasos nos pagamentos e demoras consideráveis nas transferências das empresas estrangeiras. O vice-ministro de Economia e Planejamento, Julio Vázquez, deu o alerta ao anunciar que em junho entrará em vigor um plano de consumo elétrico. - A indisciplina e o desperdício podem fazer com que estes planos não sejam respeitados e possam ocorrer cortes de eletricidade - disse Vázquez. Na segunda-feira o diretor do jornal "Granma", Lázaro Barredo, criticou "a mentalidade gastadora" de muitos cubanos, que agem como se nada ocorresse. "Assusta que a esta altura muitos companheiros não percebam a gravidade do que está ocorrendo no mundo, vejam como algo alheio e por isso não "aterrissam"", disse Barreto num artigo em que informou que de janeiro a abril se produziu um "sobreconsumo de 40 mil toneladas de combustível no gasto elétrico". Segundo ele, os apagões são a solução mais fácil, mas "o assunto é muito mais complexo" e passa pela aplicação de uma firme política de economia em todas as esferas da vida diária. No passado, corte de energia chegou a 12 horas diárias No último ano, o governo de Raúl Castro pediu várias vezes aos cubanos para apertarem o cinto, mas não havia ameaçado com uma volta dos apagões - que os habitantes associam às épocas mais duras do Período Especial, quando os cortes de energia chegaram a 12 horas diárias. Em 2004, os apagões voltaram por defeitos nas termoelétricas e no sistema de distribuição de eletricidade, que foi parcialmente sanado com a compra de geradores alimentados por diesel e querosene. As causas da crise cubana são muitas: baixa produtividade do setor empresarial estatal; falta de reformas para mudar a situação; pouca diversidade do comércio exterior, baseado principalmente na exportação de serviços médicos à Venezuela; e os desequilíbrios macroeconômicos, agravados pela crise internacional, indica o pesquisador do Centro de Estudos da Economia Cubana, Pavel Vidal. O economista destaca outras causas internas e externas - como a diminuição drástica nos termos de intercâmbio (-38% em 2008), provocada pela alta do preço do petróleo e a queda do preço do níquel, e os três furacões do ano passado, que deixaram prejuízos de US$10 bilhões no país. É extremamente grave a falta de liquidez, ressalta Vidal. - Não há dinheiro - afirma um empresário estrangeiro que se queixa que, desde dezembro, a demora para transferir dinheiro de Cuba ao exterior pode ser de três a cinco meses.

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