23 de maio de 2009

FISIOLOGISMO ESCANCARADO

EDITORIAL ZERO HORA
(RS)23/5/2009Historicamente associados a interesses fisiológicos, parlamentares do PMDB exageraram tanto na barganha para apoiar a CPI da Petrobras, que levaram pelo menos dois integrantes do partido a reagir com indignação contra o que autoridades ligadas ao Planalto definem de cúmulo da chantagem. O senador Pedro Simon tachou de escândalo a intenção de correligionários de exigir a diretoria de Exploração e Produção da estatal, aconselhando-os pelo menos a fingir decência. Embora também indignado, seu colega Jarbas Vasconcelos (PE) lamentou que ninguém tem o direito de surpreender-se com esse tipo de prática dentro do partido. É o tipo da situação que deve ser considerada deplorável em qualquer caso, particularmente nesse, por envolver uma empresa que, além de atuar numa área-chave para o país, deve explicações a seus acionistas, a seu quadro funcional, aos fornecedores e aos contribuintes de maneira geral.Infelizmente, empresas como a Petrobras constituem-se em exemplo crônico de partilhamento por interesses políticos de quem excepcionalmente está alinhado com o governo, o que sempre dá margem desde a exemplos de ineficiência administrativa até a decisões no mínimo controversas como a que a CPI do Senado se propõe a investigar. De um total de 80 diretorias, gerências e assessorias graduadas da estatal e suas subsidiárias, pelo menos 17 foram entregues ao PT – incluindo a de Exploração e Produção, também conhecida como a do Pré-Sal – ou a sindicalistas ligados ao partido. Duas já pertencem ao PMDB e outras duas ao PP.Essa deformação do serviço público no Brasil ajuda a explicar as tensões que antecederam a aprovação da comissão de investigação no Senado. Os mesmos integrantes do governo que acusaram partidos de oposição, como PSDB e DEM, de quererem se aproveitar politicamente da CPI, utilizando-a com objetivos eleitorais, não hesitaram em orientar correligionários e sindicalistas a promover manifestações de rua contra a decisão dos senadores. Entre as acusações, inclusive, está a de que os reais interesses de quem quer apurar possíveis deformações no comando da empresa são o de privatizá-la, o que não está em questão neste momento.Os excessivos interesses políticos na Petrobras, visíveis mais sob o ponto de vista da disputa por cargos, são incompatíveis com uma estatal que, por sua atuação numa área estratégica, tem ainda mais razões para ser administrada com base em padrões técnicos. O próprio pré-sal, que acirra a cobiça entre políticos de partidos tanto da base aliada quanto da oposição, tem uma importância decisiva para o futuro imediato do país. Por isso, a sociedade deve se manter vigilante para impedir prejuízos a um projeto que é de interesse de todos os brasileiros e que depende do cumprimento de um cronograma rígido daqui para a frente para produzir os resultados pretendidos.

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