22 de maio de 2009

OBAMA CONTRA GUANTÁNAMO

Do CORREIO BRASILIENSE
Presidente Barack Obama e o ex-vice Dick Cheney trocam farpas sobre a decisão do novo governo de fechar centro de detenção para suspeitos de terrorismo. Em comum, apenas a promessa de “segurança”

É fácil receber elogios da Europa, mas é difícil chegar a uma alternativa que sirva aos interesses da justiça e da segurança nacional (Dick Cheney, ex-vice-presidente dos Estados Unidos)

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o ex vice-presidente Dick Cheney discursaram ontem quase simultaneamente sobre o mesmo assunto — segurança nacional e políticas antiterroristas —, mas com abordagens radicalmente opostas. Enquanto Obama reiterou sua determinação de fechar a prisão de Guantánamo, em Cuba, e voltou a criticar os métodos de interrogatório de detentos durante o governo de George W. Bush, Cheney alegou que as medidas propostas por Obama “fragilizam a segurança do povo americano”. Falando no simbólico prédio do Arquivo Nacional, em Washington, onde estão a Declaração da Independência e a Constituição dos EUA, o presidente afirmou que foram as práticas assumidas em Guantánamo que comprometeram a segurança do país. O novo governo prepara a transferência dos prisioneiros mais perigosos para solo americano e garante que colocá-los em penitenciárias de segurança máxima não ameaçará o país. “Tenham em mente o seguinte: ninguém jamais escapou de alguma dessas prisões, onde estão centenas de terroristas condenados”, argumentou. A insistência de Obama tem motivo. Na quarta-feira, o Senado americano vetou categoricamente, por 60 votos contra cinco, a concessão de US$ 80 milhões solicitados pelo presidente para fechar a prisão de Guantánamo. O principal fator invocado pelos congressistas para negar a verba foi considerar que “não há uma estratégia sólida” sobre o que fazer com os presos que não podem ser processados em cortes civis nem em militares, embora sejam considerados potencialmente perigosos pelo governo. O presidente prometeu se esforçar junto ao Congresso para definir uma solução administrativa e jurídica para casos como o de extremistas talibãs e da rede Al-Qaeda, de Osama bin Laden. Muitos dos detentos, capturados durante o governo Bush, não foram formalmente acusados. Não existem provas suficientes para sejam levados a julgamento. “Eu sei que criar sistemas dessa natureza acarreta desafios únicos. Mas quero deixar claro que nosso objetivo é construir uma base legal válida” argumentou o presidente. Obama, porém, não perdeu a chance de registrar sua crítica ao legado que herdou do antecessor. “A Suprema Corte que invalidou o sistema de processos em Guantánamo, em 2006, foi em boa parte indicada por presidentes republicanos. Em outras palavras, o problema quanto ao que fazer com os detidos não foi criado pela minha decisão de fechar o local, mas pela decisão de abri-lo.” Contraponto Poucos minutos depois de Obama ter encerrado seu discurso, o ex-vice-presidente Dick Cheney começou seu pronunciamento, intitulado Mantendo a América Segura, no centro de pesquisas conservador American Enterprise Institute. Começou elogiando o presidente por decisões referentes ao Afeganistão e à revisão da permissão de publicar fotos de prisioneiros sendo torturados por militares. Depois, abriu a artilharia contra a administração do democrata. Defendeu as práticas de Bush e manifestou apoio às técnicas de interrogatório “avançadas”, como a que simula um afogamento. “Aqueles que fizeram perguntas e obtiveram respostas fizeram a coisa certa e deixaram nosso país mais seguro”, afirmou Cheney. Segundo o vice de Bush, as medidas de Obama para combater o terrorismo não são suficientes para garantir a segurança do país. “Na luta contra o terrorismo, não há meio-termo: você não pode manter apenas alguns terroristas nuclearmente armados fora dos EUA, você tem que manter todos fora.” Quanto a Guantánamo, a ideia de transferir presidiários para território americano seria uma “fonte de grande perigo”. Cheney aproveitou um flanco aberto por Obama, quando disse que a prisão “mancha a imagem” dos EUA no exterior, e sugeriu que a decisão do novo presidente de fechar o local estaria sendo tomada para agradar a opinião pública internacional. “É fácil receber elogios da Europa, mas é difícil chegar a uma alternativa que sirva aos interesses da justiça e da segurança nacional”, provocou. Ontem, o Departamento de Justiça americano autorizou a primeira transferência de um detento de Guantánamo para os Estados Unidos, para ser julgado em um tribunal criminal civil. O tanzaniano Ahmed Ghailani, de 34 anos, é acusado de ter participado dos atentados às embaixadas americanas no Quênia e na Tanzânia, em 1998, ocasião em que morreram mais de 200 pessoas, entre elas 12 americanos. Ghailani foi capturado em 2004, no Paquistão, e será julgado no estado de Nova York, onde foi indiciado há mais de uma década. NOVA YORK EVITA ATAQUES A promotoria de Nova York negou ontem pedidos de libertação mediante fiança para quatro suspeitos de terrorismo detidos na véspera, sob a acusação de terem conspirado para realizar uma série de atentados na cidade. Entre os planos estariam a explosão de bombas em duas sinagogas e o disparo de mísseis antiaéreos do tipo Stinger contra aviões militares norte-americanos. As prisões foram feitas na noite de quarta-feira por agentes federais e da polícia nova-iorquina, que interceptaram os suspeitos depois de eles terem estacionado carros-bomba perto de sinagogas. Os explosivos eram falsos e tinham sido fornecidos como parte de uma investigação iniciada há cerca de um ano.

Nenhum comentário: