17 de maio de 2010

LULA EM PAELLA ESPANHOLA

Autor(es): RUBEM AZEVEDO LIMA

Correio Braziliense - 17/05/2010






De fanfarronada em fanfarronada, segundo o Financial Times; de obra não iniciada em obra não iniciada, segundo a Fifa; e de descaso em descaso, face à corrupção, ou de ingratidão em ingratidão, para Moisés Naím, do Centro Carnegie de Pesquisas, o mundo vê, hoje, outro Lula.

Ninguém lhe tira os méritos por seus feitos. Naím mostra dele, em El País, o bom, o mau e o feio, citando estatísticas socioeconômicas favoráveis ao seu governo, mas lamenta “não ser ele grato aos feitos de FHC”, combatidos então por Lula, que hoje o teriam ajudado a governar.

A seu ver, dos presidentes brasileiros, “Lula foi o mais aberto ao mercado, ao setor privado e a investimentos estrangeiros que o Brasil teve”. Mas ele fala também das “contradições, inconsistências e exemplos de ampla e dupla moralidade de Lula, que não param de ocorrer”.

Ele comenta o veto de Lula à inclusão do presidente Porfírio Lobo — “eleito em Honduras, sem tramoias” — na cúpula de governantes da América Latina e União Europeia. “Isso veio de quem disse ao mundo que Ahmadinejad ganhara limpamente as eleições e que os protestos de rua, no Irã, eram coisa de torcedores de futebol, cujos clubes perderam o jogo. Enquanto Lula dizia isso, Ahmadinejad pedia pena de morte para alguns manifestantes. Que feio, não?”

Juan Luis Cebrián, também em El País, diz que “o milagre brasileiro começou com um professor respeitado e democrata exemplar (FHC), que nivelou as contas públicas e venceu a inflação”.

Pelo visto, esses juízos sobre o papel econômico do antecessor, na entrevista, põem areia na paella política de Lula e nas fanfarronices, com as quais ele contesta os feitos de FHC. Este repórter, a rigor, também os contesta, dada a omissão sistemática sobre o papel de Itamar Franco na execução do Plano Real.

A política é isso: palco de muitas injustiças. Para evitá-las, ao menos nas folhas corridas da história, convém aos que erram, hoje, recordar lição bem-humorada e sábia do catalão Noel Clarasó: “Ninguém pode mudar o passado. Quando muito, só pode mudar o jeito de contá-lo”.



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