17 de maio de 2010

Vote em Mim
Fernando de Barros e Silva
Folha de S. Paulo - 17/05/2010

SÃO PAULO - Celso Mim é um jovem político conservador, defensor da família e da tradição. É adversário das drogas, da pederastia, da vida transviada. Surgiu em 2004, como candidato a prefeito de São Paulo. Seu lema era: Celso Mim, o Prefeito da Honra. Encabeçava a coligação Humildade e Honra, composta por PRTU, PQP e PWC.

Não se lembra dele? Está achando essa história um pouco estranha? Celso Mim, na verdade, não existe. É uma invenção do ator Felipe Sant'Angelo, também conhecido pelo pseudônimo do dramaturgo Waldemar Neves.

Mim, que andava meio distante do povo, reapareceu recentemente na internet. Criou até um blog (www.celsomim.blogspot.com), onde exercita a sua pantomima.

O personagem do falso político (ou do político falso) nasceu quase por acaso, como paródia de um candidato nanico. Foi incorporado à peça "Gozolândia, uma Farsa Democrática", encenada em 2005 pelo grupo teatral Ivo 60.

Mim, no entanto, adquiriu vida própria ao aparecer num vídeo votando ao lado de Serra. Óculos de fundo de garrafa, gel nos cabelos, blazer azul marinho, camisa azul e calça clara, ele parece um genérico dos tucanos. Mas Felipe prefere não associar Mim a ninguém. Ou brinca: ele é uma mistura de Homer Simpson com Paulo Maluf.

Na dúvida, as pessoas na rua o levam a sério. Mim recebe palavras de apoio -"Valeu, Mim!", "É isso aí, Mim!"-, cartas e pedidos de eleitores. E aí reside a sua graça.

Com capacete de obras e mapas na mão, ao lado de crianças, gesticulando ou fazendo promessas, Mim dramatiza a ladainha dos candidatos e desmonta a gramática das campanhas. A confiança dos entrevistados diante no farsante expõe o lado patético da boa-fé popular.

Nesse reality show da democracia, tudo se passa entre a imitação e a caricatura, a paródia e o deboche. O candidato de si mesmo nos brinda com sua fama instantânea, enquanto exibe o que a política tem de marketing e de impostura.

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