Autor(es): Fernando Dantas
O Estado de S. Paulo - 13/05/2010
Na literatura econômica, é clássico o conceito de "ciclo político", a ideia de que os governantes pisam fundo nos gastos em anos eleitorais.
Ontem, o Itaú Unibanco atualizou sua previsão de crescimento do PIB em 2010 para 7,5%. O ministro Mantega ainda fala no intervalo de 5,5% a 6%, mas a média do mercado já avançou mais do que isso.
A média de crescimento anual do governo Lula, excluindo-se os anos ruins de 2003 e 2009, é de 4,7%. Convenhamos, portanto, que uma expansão de 6,5% a 7% em ano eleitoral tem toda a cara de ciclo político. O governo pode alegar que 2010 é saída de um período recessivo, durante o qual o arsenal de estímulos anticíclicos foi aplicado. Como é difícil calibrar essas coisas, a dose acabou se provando um pouco mais alta que o necessário.
O problema desse raciocínio é que o tsunami de gastos públicos que caracteriza esse final do governo Lula foi decidido antes da crise global. Em meados de 2008, duas MPs criaram gastos adicionais anuais com servidores de R$ 39 bilhões, a serem implementados até 2011. Desde 2007, o salário mínimo, que indexa aposentadorias e benefícios sociais, subiu 34%, mais que o dobro da inflação do período. E, sem frear os gastos correntes, o governo aumentou os investimentos mais energicamente nesse final de mandato. Não é à toa que os gastos não financeiros tiveram crescimento real recorde (no governo Lula) de 13,8% no primeiro trimestre de 2010.
A prodigalidade na prática foi acompanhada pelo discurso. Foram inumeráveis as vezes em que Lula criticou os fiscalistas, alegando que o Estado deve pagar bem e contratar muito para funcionar a contento. Criou-se, naturalmente, um clima no qual gastar é bonito e ser austero é conversa de neoliberal. Agora, o ministro Paulo Bernardo resolveu reclamar da farra. É, sem dúvida, uma reviravolta positiva. Mas vem um pouco tarde
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