6 de maio de 2010

PRESIDENTE DEFENDE TUMA JR DE ACUSAÇÕES


Folha de S. Paulo - 06/05/2010

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Lula elogia Tuma Jr., acusado de ligação com máfia chinesa

Após encontro com presidente, ministro da Justiça diz que tudo fica como está

Secretário de Justiça avisou o ministério da investigação em São Paulo; PF afirmou que a análise dos discos rígidos só acabou em abril


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem o secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Jr., flagrado pela Polícia Federal em gravações telefônicas e troca de e-mails com Li Kwok Kwen, conhecido como Paulo Li, preso em 2009 sob acusação de contrabando.

No final do mês passado, Romeu Tuma Jr. assumiu o CNCP (Conselho Nacional de Combate à Pirataria), órgão central do governo de combate a produtos contrabandeados.

Reportagem publicada ontem pelo jornal "O Estado de S. Paulo" considerou Li "chefe da máfia chinesa".

Nas gravações em poder da PF, o secretário pede celulares, trata da compra de videogame e até de regularização de chineses que viviam clandestinamente em São Paulo, tema tratado por seu departamento no Ministério da Justiça.

"Primeiro tem de esperar a investigação. Todo mundo sabe que o delegado Tuma é muito experimentado na polícia brasileira, na polícia de São Paulo. É um homem que tem uma folha de serviços prestada ao país", disse o presidente.

Apesar da defesa, Lula chamou o ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, para uma conversa ontem à noite. Depois do encontro, o ministério informou que "tudo fica como está" em relação ao secretário.

As conversas de Tuma Jr. e Li fazem parte de uma investigação da PF sobre contrabando. O secretário, contudo, não foi investigado neste inquérito, relatado pela superintendência da PF de São Paulo em outubro.

A Folha apurou que a Polícia Federal deve abrir nova investigação sobre a participação do secretário nacional de Justiça no caso. As suspeitas sobre ele são de tráfico de influência no departamento de imigração e advocacia administrativa.

A PF afirmou, por meio da assessoria, que a análise de computadores apreendidos terminou só em abril, quase sete meses após a conclusão do inquérito. Com a análise do material em andamento, ainda não era possível determinar a abertura de nova investigação.

Depoimento
O próprio Tuma Jr. avisou o ministério sobre a investigação em São Paulo.

"Fui informado da investigação. Aconselhei que o secretário prestasse depoimento. E a PF está cumprindo seu dever, tratando igualmente todo cidadão. Aguardemos a conclusão dos trabalhos", disse Tarso Genro, que deixou o Ministério da Justiça em fevereiro.

Na reportagem do "Estado" foram transcritas conversas em que o secretário trata com o chinês sobre a compra de produtos ("Deixa eu te falar: lá na Vinte e... lá na Paulista vende aquele jogo Wii?")
Além disso, há conversas sobre processos relativo à naturalização de estrangeiros ("Ah, não sei. Era uma permanência. Já tá publicado já, tá?").

As investigações também flagraram Paulo Li pedindo ao secretário para checar o processo sobre um chinês. "Deixa eu te falar: você tinha pedido um negócio pro Luciano de "Uang Hualin Chen Ian'", afirma Tuma Jr. na interceptação divulgada pelo jornal.

À noite, em um rápido pronunciamento dado à imprensa, o secretário disse que "não teve acesso e não conhece a investigação, por isso não iria falar sobre o caso". "Quando tiver mais detalhes, por dever moral, eu vou falar com vocês", disse.

Em São Paulo, o procurador da República responsável pela investigação, Marcos Gomes Corrêa, disse que Tuma Jr. não foi investigado no inquérito que tratou de formação de quadrilha e descaminho supostamente praticados pelo chinês.

O procurador afirmou que não denunciou Tuma Jr. em outubro, quando o inquérito foi concluído pela Polícia Federal, porque não foi constatado nenhum ato ilícito nas suas relações com Paulo Li.
"Não vislumbrei que [Tuma Jr.] tivesse qualquer participação nos descaminhos nem na quadrilha", afirmou o procurador, à Folha.

Indagado se Tuma Jr. é investigado em outro inquérito, Corrêa afirmou: "Não que eu tenha conhecimento, a menos que outro colega [procurador] tenha requisitado".

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