3 de maio de 2010

A PRAGA DA ALOPRAÇÃO

Rubem Azevedo Lima

Correio Braziliense - 03/05/2010



Quando se pensava que não havia mais aloprados, eis que ressurge nova maré de alopração no interior do governo e no partido governista. De um lado, fez-se o presidente da República, a oito meses do fim do mandato, ousar o que nenhum presidente ousou antes: conceder à sua mulher a Ordem do Rio Branco, no Dia do Diplomata.

Nada contra D. Marisa. Pelo contrário: que a protejam de novas aloprações, mas essa condecoração intrafamiliar é coisa de país de terceira classe. Barbara Gancia, na Folha de S.Paulo, acha que Lula fugiu ao aspecto técnico da questão e, de resto, se D. Marisa mereceu a comenda, por aturar Lula, ela, jornalista, que aguenta o presidente faz tempo — sete anos e quatro meses —, também quer receber sua medalha.

Para este repórter, todas as mulheres brasileiras, independentemente da posição majoritária do voto feminino, sobre a candidata que o presidente escolheu à sua sucessão — segundo as pesquisas de opinião pública —, merecem o mesmo prêmio. Afinal, como disse o rei Humberto I, da Itália, chamado “o Bom”, embora reprimisse, violentamente, protestos de rua de seus súditos: “Uma condecoração e um cigarro não se nega a ninguém”.

De qualquer modo, ao condecorar sua mulher, o presidente Lula devia ter caprichado, usando o manto de penas alvas do papo de pássaros, que nosso imperador Pedro I vestia nas solenes distribuições de medalhas. Falhou, no caso, o cerimonial de nosso quase imperador.

Sob esse aspecto, falhou também, noutro ponto, a assessoria de comunicação eletrônica de Dilma Rousseff, ao confundir a imagem da candidata com a da vedete e artista Norma Benguell, na passeata de fevereiro de 1968, contra a censura à cultura no país.

Parem de inventar coisas para enriquecer a biografia da candidata de Lula! Já não basta o que fizeram com os títulos falsos de economista, para registro? Ou a potoca da reação de Dilma à secretária que ela demitiu?

Dilma não é baronesa nem barão de Münchausen, para ter fama de mentirosa. Em eleição no Brasil, só o governo e os demagogos mentem. Dilma não é mais governo e surfa na maionese, como diz Ciro, o da Ciropédia, a obra de Lula para embair ou destruir quem não lhe serve mais

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