18 de maio de 2010

BRASIL FESTEJA ACORDO COM IRÃ, MAS PARA OS EUA NÃO MUDA NADA

Autor(es): Análise: Glenn Kessler - O Estado de S.Paulo

O Estado de S. Paulo - 18/05/2010





Amorim diz que sucesso torna "sem fundamento" a discussão sobre sanções; já os americanos afirmam que Teerã segue violando resolução da ONU e mantêm pressão

O acordo sobre o programa nuclear iraniano costurado por Brasil e Turquia foi motivo de comemoração entre os chefes de Estado dos três países em Teerã, informa o enviado especial Roberto Simon. Para o chanceler Celso Amorim, a pressão por sanções "perde todo seu fundamento" - em sua opinião, o diálogo só avançou desta vez porque Brasil e Turquia falam "a linguagem da cooperação", enquanto os que fracassaram usavam a linguagem da pressão". Apesar desse otimismo, parte da comunidade internacional, com os EUA à frente, manifestou reticência. Para a Casa Branca, o acordo não muda em nada a disposição de Washington de impor medidas punitivas ao regime iraniano, informa a correspondente Patrícia Campos Mello. O governo americano considera que o Irã continua violando resoluções da ONU. O Itamaraty reconhece que o compromisso de Teerã tem escopo limitado - não cita inspeções nem garantias de que o programa nuclear iraniano é pacífico.







Na batalha diplomática entre o Irã e o Ocidente, Teerã parece ter conseguido uma vitória. Com a assinatura de um acordo para o envio de parte de seu urânio pouco enriquecido ao exterior, Teerã criou a ilusão de progresso nas negociações nucleares, sem oferecer nenhum compromisso real com os Estados Unidos e seus aliados que cobravam negociações substanciais sobre o programa atômico.

Há quase oito meses, EUA, França e Rússia propuseram a troca de combustível nuclear ? para o reator de pesquisa do Irã ? como uma medida para a construção de confiança que teria, de fato, provocado uma pausa no programa iraniano e permitido que as conversações internacionais prosseguissem. Agora, o Irã conseguiu estreitar a discussão. O que supostamente era para ser um espetáculo secundário tornou-se o show principal.

Tal como foi inicialmente proposto. o Irã enviaria 70% do estoque de urânio enriquecido a 5% para a conversão em combustível na França ou Rússia. Como o Irã continuou enriquecendo urânio desde que o plano foi inicialmente proposto, um acordo com base nos mesmos termos removeria somente cerca de 50% do estoque do país.

Nesse meio tempo, o Irã começou a enriquecer urânio num teor ainda mais alto ? de 3,5% para 19,75% ? e autoridades iranianas disseram que continuarão com o procedimento. Obama enfrenta a perspectiva incômoda de rejeitar uma proposta que ele foi o primeiro a oferecer ou desperdiçar os meses de esforço para convencer Rússia e China a apoiar sanções. Ironicamente, a proposta de troca não tem relação com as sanções consideradas pela ONU, ligadas à construção de uma instalação nuclear em segredo no Irã e o não-cumprimento de pedidos para interromper o enriquecimento. A esperança dos EUA é a intransigência iraniana. Teerã pode regatear sobre detalhes e a aplicação do acordo até ele desmoronar, da mesma forma como concordou inicialmente com um acordo com os EUA e seus aliados para depois recuar. O Irã terá de apresentar uma carta à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), da ONU, explicando os detalhes do acordo. Os EUA esperam secretamente que, com isso, comece o processo de fracasso da transação.

É JORNALISTA DO "WASHINGTON POST"


1. Acordo Nuclear não convence potências

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