9 de maio de 2010

ANJO OU DEMÔNIO ? UM CRAQUE CHAMADO HELENO





O ator Rodrigo Santoro gravou as primeiras cenas do filme Heleno de Freitas que retrata a trajetória do principal anjo mau do futebol brasileiro. As gravações do filme que José Henrique Fonseca dirige no Rio de Janeiro estão sendo realizadas no Estádio de São Januário, do Vasco da Gama.
A história é sobre um dos primeiros craques do futebol brasileiro, Heleno de Freitas, antes mesmo do país se consagrar nas Copas do Mundo. Heleno foi uma das primeiras revelações do Botafogo, e jogou nas décadas de 1930 e 1950. Acabou se afastando do futebol em 1952, por conta de seu comportamento agressivo, quando foi constatado que sofria de sífilis. Ele passou os últimos anos de sua vida internado num sanatório em Barbacena, onde morreu em 1959.
As primeiras tomadas foram gravadas dentro do vestiário e por volta de 00h30 começaram a fazer a montagem para filmar em campo. Na noite de segunda-feira, o estádio foi utilizado para reproduzir um confronto entre Botafogo e Fluminense, na década de 40 Nos bastidores, Rodrigo (que costuma jogar futebol com amigos) bateu uma bolinha com seus companheiros de elenco

Rodrigo Santoro passa por uma metamorfose: primeiro, o corte de cabelo, cuidadosamente penteado com gomalina, à moda de Rodolfo Valentino; em seguida, os tornozelos são tratados com gelo, como fazem os atletas profissionais. Mas é no olhar que a transformação mais impressiona. É a partir dos olhos que o ator Rodrigo Santoro assume a figura de Heleno de Freitas (1920- 1959). Heleno ídolo do Botafogo dos anos 40 nasceu em berço de ouro e foi considerado o primeiro ídolo problemático do futebol, por causa do seu gênio forte e a vida boêmia que levava. Morreu sifilítico, incompreendido, louco. Um fascinante personagem cuja trajetória inspira o novo filme que José Henrique Fonseca. "Heleno carregava a própria tragédia grega no nome", conta o cineasta, enquanto observa o trabalho de concentração de Santoro.
Orçado em R$ 8 milhões – financiado pelo botafoguense Eike Batista, o filme (que ainda carrega o título provisório de Heleno - pode mudar para um título sem referência ao nome do jogador) vai acompanhar a trajetória de um craque singular obcecado pela vitória: advogado formado, bonito, famoso, goleador mas disposto a brigar com adversários e colegas do próprio time por conta de uma jogada malfeita, Heleno era um gentleman fora do gramado, incapaz de insultar alguém. "É um personagem muito complexo, que ainda estou descobrindo", conta Santoro.
Heleno jogou no Botafogo, Vasco, Santos, América carioca, além do Boca Juniors da Argentina (passagem na qual se criou o boato de que teve um affair com Evita Perón) e Atlético Junior de Barranquilla da Colômbia, onde cativou torcedores ilustres como o escritor Gabriel García Márquez. "Quando o encontrei, em um festival de cinema em Cuba, Gabo disse que, com Heleno, não havia meio termo: ou ele encantava a torcida com um show de bola ou era expulso, depois de brigar com alguém."
Graças ao apoio do empresário Eike Batista, que acreditou no filme e despertou o interesse de outros financiadores, o público vai conhecer a história do homem que buscava a perfeição mas, vitimado pela sífilis que destruiu seu cérebro, terminou como um farrapo humano. "Há cenas muito fortes, como a única partida que Heleno disputou no Maracanã", observa Santoro.

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