EDITORIAL A CRÍTICA (AM)2/5/2009
Na contramão do que pensa a sociedade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva veio ontem a público reiterar o que já havia manifestado anteriormente no que tange ao uso – e abuso – das cotas de passagens pelos parlamentares do Congresso Nacional. São dele essas palavras: “Existe uma hipocrisia muito grande nessa história da Câmara dos Deputados. Sempre foi assim. Não vejo onde está o tamanho do crime em levar a mulher ou sindicalista para Brasília.” O presidente, não é de hoje, tem-se notabilizado por algumas de suas considerações sobre assuntos espinhosos; desses que, talvez, demandassem dele uma postura menos emocionalmente reativa. No caso da cota das passagens aéreas, grosso modo, tomando por base a sua avaliação, fica parecendo que a direção da Câmara dos Deputados levou muitíssimo a sério a opinião pública, quando decidiu restringir o acesso a esse benefício aos parlamentares e seus assessores autorizados. De fato, levar a esposa e sindicalista para Brasília não chega a ser um crime maior contra as finanças públicas, sobretudo se o sindicalista estiver contribuindo em eventual discussão de interesse parlamentar. Ocorre que Lula focou sua ponderação em um ângulo apenas da questão, omitindo-se completamente quanto aos demais aspectos cruciais dela. E mais: atravessou no meio desse assunto um argumento que, submetido a uma lente crítica, revelaria conectividades das quais ele nem sequer suspeitava. Senão vejamos, com a ajuda de suas próprias palavras: “O problema do Brasil não é esse – cota de passagens. Isso pode ser corrigido por decisão da Mesa Diretora. Esse não é mal do Brasil. Se o mal do Brasil fosse esse, o País não teria mal.” Estivesse devidamente advertido a respeito dos efeitos nefastos do patrimonialismo sobre a coisa pública, o presidente acabaria convencido de que aí reside, sim, uma das principais fontes de problemas do País, cujas manifestações podem ser percebidas e avaliadas em termos, por exemplo, da qualidade dos serviços públicos. Não é por outro motivo que a imagem do Congresso Nacional – do qual se espera um trabalho responsável e comprometido – está rente ao chão e que as Cortes de Justiça Brasil afora, neste momento, encontram-se com as entranhas expostas pelo trabalho republicano desenvolvido pelo Conselho Nacional de Justiça.
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