EDITORIAL
O GLOBO
O presidente Lula já admitiu que assumia na oposição discursos e postura inadequados para quem tem responsabilidade de governo. Foi honesto ao reconhecer em público este aprendizado, vivido em sentido inverso por tucanos e democratas - que foram poder durante oito anos. No início do primeiro mandato de Lula, PSDB e DEM demonstraram coerência com o que defenderam na Era FH, e apoiaram o Planalto no encaminhamento da reforma da previdência do funcionalismo, ainda inconclusa. O apoio que Lula não encontrou no PT para esta crucial reforma, ele recebeu do PSDB e do DEM, sinal de amadurecimento da democracia representativa no país. A proximidade das eleições de 2010, a primeira de que não participará Lula como candidato à Presidência desde a redemocratização, parece mexer com os nervos e o equilíbrio emocional de oposicionistas, diante da perspectiva que têm de voltar ao Planalto em 1º de janeiro de 2011. Pode ser também que Lula, ao antecipar a campanha de Dilma Rousseff, e mantido altos índices de popularidade, tenha obstruído a capacidade de oposicionistas de traçar estratégias sensatas, fugindo do discurso fácil do populismo e de artimanhas do varejo eleitoral. Aproveitar o horário de propaganda partidária gratuita, como fez o PPS, para acusar Lula de, na imprescindível redução da rentabilidade da caderneta, supostamente fazer o mesmo que Collor, responsável pelo sequestro de toda a poupança dos brasileiros, é enveredar pelo mesmo caminho obscuro de aloprados e similares. Outro grave erro é apoiar propostas demagógicas - como o fim do fator previdenciário e a extensão do aumento do salário mínimo a todos os segurados do INSS -, para forçar vetos impopulares do presidente. Desgasta a imagem da oposição e cria reais dificuldades para o país. É pura falta de espírito público -, mercadoria escassa no mercado, mas que não deve ser esquecida. O Bolsa Família será uma esfinge mitológica: caso não seja decodificado corretamente, devorará a oposição. Os tucanos podem, e devem, reclamar a paternidade dessa linha de ação assistencial. Mas não há como fugir da necessidade de readequar o programa e criar alternativas para que os beneficiários vivam sem a esmola oficial (a abertura das tais "portas de saída"). Imaginar que o Bolsa Família pode ser ampliado sem problemas fiscais, sem que se consolide uma população de párias dependentes do Estado - e, portanto, também nesta questão, enveredar pelo populismo -, é um desserviço à nação e uma traição ao projeto de um país moderno em todos os sentidos.


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