9 de junho de 2010

BRASIL CRESCE A PASSOS DE GIGANTE



Autor(es): Luciano Pires

Correio Braziliense - 09/06/2010

NO ÁPICE DO CRESCIMENTO


O impressionante salto de 9% do Produto Interno Bruto no primeiro trimestre de 2010 é uma combinação de fortíssima produção industrial, aumento de investimentos e consumo em alta. A expansão econômica brasileira no período chega próximo à apresentada pela China, que registrou incríveis 11,9% na comparação com 2009. Especialistas preveem uma acomodação nos próximos meses, mas em índices ainda elevados, e estimam um crescimento anual de até 8%.

Brasil tem incremento de 2,7% no primeiro trimestre, o maior entre países listados pelo IBGE. Mesmo que a atividade parasse hoje, expansão seria de 6% no ano.

Enviado Especial

Em uma demonstração de força sem precedentes em pelo menos 15 anos, a economia brasileira cresceu no primeiro trimestre deste ano mais do que as principais nações ricas, superou os emergentes Índia e Rússia e ainda apareceu no retrovisor da China, a locomotiva do planeta no pós-crise. Números divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que o Produto Interno Bruto (PIB), a soma das riquezas produzidas pelo país, avançou 2,7% entre janeiro e março, na comparação com o último trimestre do ano passado, e 9% em relação ao mesmo período de 2009 — esse, o melhor resultado oficial já registrado desde que os serviços e as riquezas passaram a ser calculados, em 1995. Nas contas do governo, em um quadro hipotético, em que a economia deixasse de crescer até o fim do ano, o avanço do PIB seria de 6%, tal foi a força computada entre janeiro e março (é o que se denomina carregamento estatístico ou carry-over).

A expansão industrial e o aumento dos investimentos sustentaram quase todo o ganho. Atingidas em cheio pela instabilidade que empurrou o planeta para a recessão em 2008, as empresas reagiram com vigor. A construção civil, o comércio, a agropecuária e os serviços responderam positivamente à oferta de crédito e ao incremento do mercado de trabalho e da renda. Até os exportadores e os importadores aproveitaram a onda de recordes para baterem as suas próprias marcas.

Ainda que os próximos trimestres sejam de desaceleração e acomodação da atividade — em níveis elevados, ressalte-se —, pouca gente duvida que o país deixará de crescer pelo menos 7% ao fim do ano. Essa é a previsão reinante no mercado e no governo — os mais otimistas falam em um salto de 8% —, que, se confirmada, resultará no melhor desempenho do país desde 1986, ano do fatídico Plano Cruzado.

“Vivemos um momento de ouro neste país. É um crescimento exuberante. Acho que o Brasil merecia e precisava disso”, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante discurso em Fortaleza (CE). Em tom de revanche, Lula emendou: “Vocês viram que fui esculhambado quando disse que a crise seria só uma marolinha aqui no Brasil, e alguns diziam que o Brasil ia afundar. O Brasil foi o último a entrar na crise e o primeiro a sair da crise”.

Dependência

Sob qualquer parâmetro recente, as comparações sugerem que o PIB nacional atingiu o topo ao entrar de sola em 2010. Em valores correntes, o montante acumulado nos três primeiros meses do ano foi de R$ 826,4 bilhões. Boa parte disso saiu do bolso das famílias (R$ 526,7 bilhões), que, há 26 trimestres, continuam consumindo e sustentando — ainda que a um ritmo mais modesto desta vez — a economia. O recorde no volume de investimentos realizados diretamente na produção, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), e a elevação dos gastos do governo (R$ 157,2 bilhões) também ajudaram a sustentar o salto do PIB. A baixa taxa de poupança bruta (15,8% do Produto) contrasta, por sua vez, com os bons índices registrados no primeiro trimestre e é apontada como uma pedra no sapato que poderá trazer problemas, inclusive, para o próximo presidente da República, diante da dependência cada vez maior do país por capital estrangeiro.

Rebeca Palis, gerente de contas trimestrais do IBGE, explicou que, ao contrário do observado no primeiro trimestre de 2009, entre janeiro e março de 2010, o que se viu foram recordes positivos em série. Segundo ela, as perdas causadas pela crise internacional, decorrente do estouro da bolha imobiliária nos Estados, já foram recuperadas. O consumo das famílias, completou a especialista, embora em ritmo mais lento, conseguiu manter o PIB em alta no primeiro trimestre. Bancos e consultorias que respondem ao questionário semanal Focus feito pelo Banco Central acreditam que esse papel continuará sendo desempenhado com louvor pelos lares brasileiros, perante a perspectiva de criação recorde de empregos com carteiras assinadas neste ano — a previsão é de 2,5 milhões de vagas — e do controle da inflação por meio da elevação da taxa básica de juros (Selic).

Acomodação

Entre os países que compõem o BRIC, grupo de emergentes que despontam com chances reais de se tornarem nações desenvolvidas, o Brasil só perde para a China. Dados compilados pelo IBGE mostram que os chineses cresceram no primeiro trimestre incríveis 11,9% ante o mesmo período de 2009. Já a Índia avançou 8,6% e a Rússia, 4,5%. Se a taxa de 2,7% obtida pelo Brasil na comparação com os últimos três meses de 2009 for anualizada, ou seja, se o país mantiver o pé no acelerador e repetir igual performance nos três trimestres seguintes, o crescimento final será tão surpreendente quanto o chinês: 11,2%, taxa que só se viu nos anos 1970, quando o país estava sob o controle dos militares.

A tendência, porém, é de acomodação. Analistas independentes e até o governo reconhecem que, dificilmente, a economia se manterá tão aquecida como nos primeiros meses de 2010. A crise na Europa, o cenário de superaquecimento e os passos do BC na condução da política monetária estão sendo monitorados — a expectativa é de que o Comitê de Política Monetária (Copom) aumente os juros hoje em 0,75 ponto percentual, de 9,50% para 10,25% ao ano. A grande preocupação dentro do governo e mesmo entre analistas do mercado é de que o BC não force demais a mão, a ponto de comprometer demais o crescimento tão comemorado.




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