15 de junho de 2010

QUAL É A PROPOSTA




Celso Ming

O Estado de S. Paulo - 15/06/2010


Nesse fim de semana, o ex-governador José Serra e a ex-ministra Dilma Rousseff oficializaram suas candidaturas à Presidência da República, cada qual pela coligação de partidos que os apoia. Ele, pela oposição; ela, pelo governo Lula.

Do ponto de vista da política econômica, Dilma se apresenta agora como a candidata da continuidade, como aquela que vai manter as grandes linhas que, argumenta ela, garantem a estabilidade que é precondição para o prosseguimento dos programas de desenvolvimento e aumento de densidade do Brasil na economia global. E é assim que os emissários de Dilma vêm se apresentando aos empresários e grandes administradores.

Assim, às vezes com mais sutileza e às vezes com menos, tentam explorar o que entendem como campo de indefinição ou, mais do que isso, como as incertezas que cercam o programa de política econômica do candidato adversário.

O argumento dos defensores da candidata governista é o de que, se Serra vier a ser presidente da República, a economia brasileira correrá forte risco de passar por uma ampla desarrumação, com as consequências que daí deverão provir.

Desde os tempos em que participava como ministro das duas administrações Fernando Henrique, José Serra vem fazendo críticas duras não só à política cambial e à política monetária. Ele também se pronuncia especialmente contra a concessão do atual grau de autonomia do Banco Central na condução da política monetária (política de juros): "o Banco Central não é a Santa Sé", disse em abril na TV, em ríspida entrevista concedida à jornalista Míriam Leitão.

Mas essas posições estão longe de dar uma visão clara de como seria a geometria da política econômica num possível governo Serra. Não se sabe até que ponto seria alterado o atual tripé: responsabilidade fiscal (com formação de forte superávit primário); câmbio sujeito a "alguma flutuação suja", na medida em que prevê intervenções do Banco Central no mercado; e sistema de metas de inflação.

Serra é conhecido como aquele que sempre exigiu muito rigor na execução da política fiscal. No mais, às vezes, indica que fará mudanças, mas não a ponto de mexer radicalmente no tripé. Outras, é crítico ou vago o suficiente para deixar empresários e analistas na dúvida ou então que tome corpo a tese do "risco Serra".

Quando pretendia arrebatar a candidatura a vice de Dilma, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, denunciou com certa insistência a existência desse risco. Depois, no entanto, passou a defender a posição de que a economia brasileira já havia ultrapassado o estágio da puberdade e já é madura o suficiente, vem dizendo ele, para não se sujeitar a mudanças radicais no atual modelo. Isto é, independentemente de quem seja o novo presidente, as atuais vigas mestras serão fundamentalmente mantidas.

Seja como for, Serra está devendo uma definição do que pretende, se for eleito. As sabatinas se sucederão agora em todos os meios de comunicação e serão excelente oportunidade para deixar tudo isso mais claro. E é bom que fique claro. Se está erguendo a bandeira da confiança e da garantia de que "o que é bom deve continuar", é porque Dilma está identificando fragilidades nas propostas do seu adversário que lhe convém explorar eleitoralmente.

A França usa a tesoura
A França está disposta a seguir o projeto alemão. O primeiro-ministro francês, François Fillon, anunciou ontem que o governo se prepara para um corte de ? 45 bilhões no orçamento até 2013. Na semana passada, foi a vez da chanceler Angela Merkel avisar que seu governo estava fazendo uma economia de ? 80 bilhões no mesmo período.

Dívida e soberania
Fillon justificou os novos cortes como uma decisão destinada a garantir a soberania do Estado francês: "Um país perde parte de sua independência nacional quando se endivida demais e quando acaba amarrado às decisões dos credores."

Na contramão
As decisões da Alemanha e da França contrariam os apelos formais do secretário do Tesouro americano, Tim Geithner, reiterados na última reunião do G-20, de que os governos europeus incrementem o dispêndio público para incentivar o consumo, em vez de aumentar os cortes de despesa que produzem recessão.

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