Um total de 37 destroços foram encontrados até agora. Cuidadosamente arrumadas sobre uma lona plástica, Elas foram exibidas para facilitar a observação. Os destroços chegaram quarta-feira ao porto de Natal, a bordo do navio Grajaú, e foram levados para Recife num Hércules C-130 da FAB. Ontem foram avistados novos pedaços da aeronave.
As peças serão analisadas por um técnico francês que chega ao Brasil domingo. Responsável por investigar as causas do acidente, ele fará uma perícia inicial e avaliará se os destroços serão levados para a França ou se a perícia completa será realizada em território brasileiro.
Algumas peças eram facilmente identificáveis: três máscaras de oxigênio, almofadas vermelhas, duas tampas de bagageiros, três garrafas plásticas intactas, uma maleta laranja de plástico também intacta, dois sacos plásticos amarelos.
Os oficiais da Aeronáutica que participam das operações foram instruídos a não dar explicações. Mas, as observações preliminares permitem concluir que o vôo 447 da Air France não explodiu antes de cair com 228 pessoas a bordo, na noite de 31 de maio: nenhuma das peças tinha indício de chamuscamento.
Outras peças, tais como uma almofada plástica amarela transparente, lacrada, com um sinalizador de luz (dando a impressão de ser inflável), assim como parte interna da aeronave com dois assentos e os cintos de segurança desamarrados (provavelmente onde se sentam os comissários nos momentos de decolagem, pouso e turbulências). Havia, ainda, duas peças maiores - uma com quase três metros de comprimento bem destruída; e o que parecia ser uma porta, com um suporte para colocar copos ou garrafas. Além disso, havia muitas outras peças, bem pequenas, algumas com tamanho de apenas um palmo.
O QUE DIZEM OS CORPOS
Os primeiros corpos resgatados do mar e examinados por especialistas, começaram a fornecer informações preciosas sobre as circunstâncias em que se deu a tragédia do Airbus da Air France, com 228 pessoas a bordo, há duas semanas. Pode se dito que as vítimas resgatadas do mar têm agora uma última e nobre missão; fornecer informações preciosas sobre as causas da tragédia.
Como sempre ocorre em desastres aéreos, são colhidas informações análises que depois de processadas são utilizadas para tornar outros vôos mais seguros. As perguntas para as quais já se encontraram respostas, ainda que parciais, incluem algumas das que mais angustiam os parentes das vítimas. De que maneira os passageiros e tripulantes morreram? Teriam eles sofrido? Na semana passada, à medida que as equipes de resgate recolhiam do mar os corpos das vítimas e os destroços da aeronave, essas questões começaram a ser esclarecidas.
Técnicos e outros especialistas, assim como os militares que participam nas operações de resgate e de reconhecimento dos corpos já periciados do voo 447 da Air France vêm manifestando uma opinião quase unânime de que, ao contrário do que se especulou inicialmente, os ferimentos sofridos pelas vítimas fazem supor que o avião não explodiu nem se desintegrou inteiramente no ar. . É quase certo que o Airbus caiu na água ainda com muitos dos passageiros em seu interior da fuselagem. Segundo a opinião desses especialistas, pelo menos em parte o avião tina a fuselagem preservada. Os corpos encontrados não apresentam sinas de que tivessem sido ejetados a grande altura sobre o oceano. No momento da queda, todos os ocupantes do Airbus já estariam mortos por asfixia, causada pela rápida despressurização da cabine momentos antes da queda. O alerta sobre a despressurização da cabine consta das duas dezenas de mensagens automáticas enviadas para o centro de controle da Air France pela aeronave, comunicando falhas graves nos sistemas de navegação, enquanto cruzava uma tempestade. Com a mudança repentina de pressão dentro do avião e a consequente falta de oxigênio, os passageiros e tripulantes teriam desmaiado em menos de meio minuto. É quase certo que todos tenham sofrido hipóxia cerebral – falta de oxigenação – e Sem a volta do fornecimento de oxigênio, todos teriam morrido rapidamente.
A tese da morte por asfixia é reforçada pelo fato de os primeiros corpos periciados apresentarem o que os legistas chamam de "dentes rosados". Eles são o resultado de hemorragias junto às raízes dentárias, típicas de vítimas de sufocamento. Os exames dos órgãos internos poderiam ajudar a comprovar a tese da asfixia, mas os legistas acreditam que as lesões características dessa forma de morte, como o rompimento dos tímpanos e o inchaço dos pulmões, não poderão mais ser comprovadas por causa do estado de decomposição dos corpos. Caso eles estivessem mais bem preservados, o reconhecimento das vítimas seria mais fácil, já que nas roupas de algumas delas foram encontrados documentos, objetos pessoais e até cartões de embarque.
Os peritos apontam outras provas de que pelo menos parte do Airbus chegou ao solo inteira. Se o avião tivesse explodido ou se desintegrado no ar, os corpos estariam muito mais machucados. A maioria dos cadáveres apresenta o chamado "sinal das quatro fraturas". Essa expressão da medicina legal se aplica a vítimas com fraturas nos terços médios de pernas e braços. São lesões comuns em pessoas que se jogam de edifícios e caem em pé. O "sinal das quatro fraturas" teria sido produzido nas pernas na hora do impacto da fuselagem sobre a água. No caso dos braços, pela força da gravidade no momento de uma desaceleração violenta. Amparados nessas evidências, os legistas descartam a possibilidade de que esses corpos tenham sido lançados para fora do avião em pleno ar, como ocorreu em 2006 com o Boeing da Gol que se chocou com o jatinho Legacy na Amazônia e se fragmentou. "Serão necessários mais exames para avaliar o estado dos órgãos internos dos corpos, mas as lesões sugerem que as vítimas estavam sentadas e que o avião pode ter batido violentamente de barriga sobre o mar", diz um perito. "Se essas pessoas tivessem caído do avião ainda no ar, teriam múltiplas fraturas, além das que observamos apenas nos membros superiores e inferiores. Além disso, seus órgãos estariam destruídos", ele conclui.
Na sexta-feira passada, as equipes de resgate completaram onze dias de operações de busca numa área maior que a do estado do Acre. A Aeronáutica reconhece que nem todos os corpos poderão ser retirados do mar. Primeiro, porque as correntes marinhas continuam a espalhá-los para longe do local do acidente. Segundo, porque é possível que aqueles ainda desaparecidos estejam presos dentro da fuselagem submersa. Por fim, porque, pela data do acidente, os corpos já estão prestes a entrar na terceira fase do processo de decomposição, a chamada esqueletização. Nessa etapa, os gases que trazem os corpos para a superfície começam a escapar devido à degeneração dos tecidos e os cadáveres voltam ao fundo do mar. "A partir dessa fase, que está na iminência de começar, será impossível localizar corpos na superfície", diz Reginaldo Inojosa, professor do curso de mestrado de perícia forense da Universidade de Pernambuco.
Há também vários índicos de que a tragédia teria chegado de forma tão rápida que impediu a reação da tripulação: o que aconteceu pegou os ocupantes do avião de surpresa. As poltronas destinadas aos comissários de bordo estavam recolhidos, em posição de repouso, permitindo concluir que tripulantes estavam circulando pelos corredores, provavelmente atendendo aos passageiros. Caso houvesse um sinal de alerta devido à iminência de risco, como uma turbulência, a tripulação estaria sentada, atada aos seus lugares. Eles não tiveram tempo de fazer nada.
De acordo com o diretor do Departamento de Controle do Espaço Aéreo da FAB, brigadeiro Ramon Borges Cardoso, ainda há muitos outros destroços nos navios que se encontram na área do acidente. Uma parte deles está na fragata Constituição, que vem trabalhando no resgate de corpos e deve chegar a Recife no domingo. A maior das peças encontradas até agora ainda está na fragata Constituição.
O comandante do 3º Distrito Naval, vice-almirante Edison Lawrence, afirmou que seis corpos de possíveis vítimas do voo 447 da Air France estão a bordo do navio francês Mistral. As vítimas, porém, serão computadas apenas quando passarem para navios brasileiros - ainda sem prazo para acontecer. Por enquanto, o número oficial de corpos recolhidos permanece em 44. O Mistral permanece no limite entre a área de buscas de Senegal e do Brasil.
No IML do Recife os 16 primeiros corpos resgatados continuam à espera de identificação. Outros 25 corpos estão em Fernando de Noronha, onde passam por uma verificação preliminar, e mais três estão a bordo da fragata Constituição.
As buscas na sexta-feira contaram apenas com aeronaves da FAB. As duas francesas que participam da operação estão em manutenção de rotina. As condições meteorológicas continuam desfavoráveis. O submarino nuclear francês Emeraude continua vasculhando a área em busca das caixas-pretas.
Esta é a maior das operações já feitas pela FAB, envolvendo mais de 800 homens. Os navios da Marinha já navegaram 13.763 milhas (o equivalente a 25.490 quilômetros), o que representa mais de três vezes a extensão da costa brasileira, segundo o comando da Marinha e da
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