19 de junho de 2009

CALOTE COM CHEQUES É O MAIOR DESDE 1991

Por CÁSSIA ALMEIDA E RONALDO D'ERCOLE
O Globo - 19/06/2009

Desemprego e aperto em outros tipos de crédito fizeram total de devoluções ser o maior em 18 anos
Calote no cheque bate recorde

Há 18 anos o índice de cheques devolvidos por falta de fundos não era tão alto no Brasil. Em maio, foram devolvidos 2,49 milhões de cheques, chegando a 25,2 ordens de pagamento sem fundos por mil emitidos. O indicador do Serasa Experian, divulgado ontem, existe desde 1991 e foi a segunda vez este ano que o indicador atingiu seu ponto máximo. Maio bateu o recorde de março, que fora de 24,6 cheques sem fundos. Segundo Carlos Henrique de Almeida, assessor econômico do Serasa, a crise financeira que levou o Brasil à recessão nos últimos seis meses elevou a inadimplência nos cheques. Como o crédito secou, o comércio usou os cheques pré-datados para financiar seus consumidores. Além disso, a alta do desemprego diminuiu a renda das famílias e fez aumentar o calote no cheque:
- As pessoas já chegaram endividadas no Dia das Mães e voltaram a comprar. As contas acumularam com a Páscoa e os gastos com os feriados prolongados.
Segundo o assessor do Serasa, em maio tradicionalmente a inadimplência aumenta. Porém, este ano, o avanço foi maior. Na comparação com o mesmo período do ano passado, a alta foi de 18,9%. De janeiro a maio, subiu em 16,3% o número de cheques devolvidos. Mas o cenário é de melhoria, na opinião de Almeida:
- Se a recuperação da economia for consistente e parte do empregos voltar, os índices devem começar a cair. No segundo semestre, as taxas costumam ser menores. Mesmo com a alta, a inadimplência no cheque é baixa, 2,52%, a metade de outras formas de pagamento, como cartão de crédito.
O professor de Finanças do Ibmec Gilberto Braga acredita que as taxas só devem começar a baixar no fim do ano. Para ele, a inadimplência nos cheques deve permanecer no mesmo patamar nos próximos meses:
- O consumidor foi empurrando a dívida com a barriga, mas pagou um juro mais alto por conta da crise, e o resultado estamos vendo nesses índices - afirmou.
O economista lembrou que a queda da taxa básica, a Selic, baixou de 13,75% ao ano em dezembro de 2008 para 9,25% na última semana. Segundo ele, essa redução além de ativar a economia, melhorando o mercado de trabalho, vai se refletir nas taxas pagas pelos consumidores. Ele aconselha a refinanciar os débitos e concentrar a dívida num único devedor:
- É melhor dar preferência ao consignado, que tem taxas menores.
O aposentado Paulo Fernandes Alves foi à financeira Panamericano ontem para renegociar sua dívida. Há cerca de oito meses, ele havia pedido R$1.500 emprestados para pagar em 36 vezes. Porém, com 18 parcelas já quitadas, o orçamento ficou apertado e ele precisou pegar novo empréstimo e ampliar o pagamento para 60 meses.
- Preciso pagar carnês de lojas e outros empréstimos, então, tive que pegar mais dinheiro - explica Alves, que trabalha de motorista para aumentar a renda familiar.
E a tendência é os juros ficarem menores, conforme já verificou a Associação Nacional dos Executivos de Finanças e Contabilidade (Anefac) em pesquisa feita em maio e divulgada ontem. As taxas de juros dos financiamentos, tanto ao consumidor como para as empresas, voltaram a cair em maio. Para pessoas físicas, a taxa média recuou de 7,33%, em abril, para 7,28%, o menor patamar desde abril de 2008. Para empresas, o juro médio caiu de 4,21% para 4,15% ao mês. Foi o quarto mês seguido de queda.
- Os números deste mês já demonstram o retorno das condições de crédito anteriores à crise de setembro do ano passado, tanto nos prazos dos financiamentos como na redução dos juros - disse Miguel de Oliveira, coordenador da pesquisa.
No mês passado, com exceção dos juros no cartão de crédito que permaneceram em 10,68%, todas as demais taxas caíram. Os juros nas financeiras declinaram de 11,24% para 11,19% ao mês (ou de 259,03% para 257,10% ao ano), a mais cara do mercado. Na outra ponta, com as menores taxas estão a do crédito direto ao consumo (CDC) nos bancos, que baixaram de 2,88% ao mês (40,6% ao ano) para 2,78% (ou 38,96% anuais).

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