24 de junho de 2009

SARNEY TROCA DIRETORES, MAS PRESSÃO CONTINUA

Por CHRISTIANE SAMARCO e EUGÊNIA LOPES
O Estado de S. Paulo - 24/06/2009

Pressionado por senadores que vêm se revezando na tribuna do plenário para exigir seu afastamento do comando da Casa, o presidente José Sarney (PMDB-MA) exonerou ontem o diretor-geral, Alexandre Gazineo. Ele deixa a diretoria em meio ao escândalo dos atos secretos, revelado há duas semanas pelo Estado, e que também provocou a queda do diretor de Recursos Humanos, Ralph Campos.
A queda iminente de Gazineo foi noticiada pelo Estado na última segunda-feira. Senadores pressionavam Sarney a retirá-lo do cargo por suas ligações histórias com o ex-diretor-geral Agaciel Maia, apontado como um dos principais responsáveis pelos atos secretos. Mas a indicação do consultor do Senado Haroldo Tajra para substituir Gazineo, e de Dóris Peixoto para o lugar de Ralph, não acalmou os ânimos nem amenizou a crise.
A escolha fez com que líderes da oposição e até da base governista não vissem na medida um ato de transparência administrativa, mas uma manobra que permite a Sarney manter o controle político sobre a Direção-Geral do Senado. Diante da timidez das providências, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) reiterou ontem o pedido para que o peemedebista se licencie e deixe a presidência da Casa. Cristovam Buarque (PDT-DF) emendou: "Não é mais caso de licença, mas de renúncia".
Anteontem, ao responder às cobranças do líder tucano, o senador Arthur Virgílio (AM), Sarney repetiu o que havia dito no discurso de terça-feira da semana passada, que fora eleito para "presidir politicamente a Casa", e não para "cuidar da despensa ou limpar as lixeiras" do Senado.
Entre os motivos da descrença de que as demissões de diretores gerem mudança estão as ligações políticas dos substitutos. Ambos foram escolhidos pelo primeiro-secretário, Heráclito Fortes (DEM-PI), para "cumprir missão por 90 dias" - período em que ficarão como interinos nos cargos.
O novo diretor-geral é parente do primeiro suplente do senador, Jesus Tajra, e estava lotado na primeira secretaria desde 2001. Dóris é ligada ao clã Sarney e foi chefe de gabinete da ex-senadora Roseana Sarney, atual governadora do Maranhão. Além disso, ao menos por enquanto, apenas um dos 663 atos secretos assinados pelo ex-diretor Agaciel Maia foi anulado - o que dava direito à assistência médica vitalícia para aqueles que estiveram à frente da diretoria-geral e da secretaria-geral do Senado.
PADRINHO
Não por acaso, tanto o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), quanto Sarney, fizeram questão de deixar claro que a responsabilidade exclusiva da escolha é de Heráclito. A primeira secretaria é conhecida no Senado como um "reduto" do DEM. Está envolvida em várias denúncias de irregularidade e corrupção porque é por lá que passam todos os contratos de serviços, empresas e pessoal.
Tajra ingressou no Congresso por concurso público, como consultor, mas está lotado ali há oito anos como assessor da primeira secretaria e já serviu a dois outros senadores do partido (Romeu Tuma e Efraim Moraes), antes de trabalhar com Heráclito. "Assumo a responsabilidade exclusiva sobre as escolhas", anunciou Heráclito depois de quase três horas de reunião da Mesa Diretora. Também foi substituída ontem a diretora de Estágio, Sânzia Maia, mulher do ex-diretor Agaciel.
Em vez de atender aos apelos de senadores e abrir um processo para demitir Agaciel e o antecessor de Ralph nos Recursos Humanos, João Carlos Zoghbi, o presidente do Senado anunciou ontem que pedirá a ambos que se afastem da Casa informalmente. A ideia é evitar que a presença dos dois investigados por uma comissão de sindicância, destinada a apurar os atos secretos, irrite os senadores.
Anteontem, olhando para Sarney, Simon já havia avaliado que o presidente da Casa não tem mais independência para mandar investigar o ex-diretor-geral. "Quando Vossa Excelência nomeou Agaciel pela primeira vez como diretor-geral do Senado (1995), foi porque achou que ele poderia vir a ser um bom diretor. Quando o confirmou no cargo ao assumir a presidência do Senado pela segunda vez (2003) foi porque teve a certeza de que ele era bom. E quando o manteve no cargo ao assumir a presidência pela terceira vez (2009) foi porque concluiu que ele de fato era muito, muito bom."
Sarney anunciou ontem no plenário as providências tomadas pela direção da Casa: auditoria, pelo Tribunal de Contas da União, da folha de pagamentos e dos contratos; eliminação de folhas suplementares de pagamento, que passam a ser efetuados em um único contracheque; e a criação do Portal da Transparência que disponibilizará na internet todos os atos e gastos do Senado.

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