10 de junho de 2010

COPOM VOLTA A ELEVAR JUROS: TAXA BÁSICA VAI A 10,25%



SÃO PAULO - O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) ampliou, por unanimidade e pela segunda vez consecutiva, a taxa básica de juros - Selic -, que passou dos 9,50% para 10,25% ao ano. O aumento de 0,75 ponto já era esperado pela maioria dos analistas e criticado pelas entidades industriais. O objetivo do governo é conter o risco de inflação. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) divulgado na última terça-feira (9% em relação ao primeiro trimestre) significou um risco, na visão do BC.

Os sinais de que tanto a inflação como o ritmo de crescimento econômico vêm diminuindo praticamente descartaram a possibilidade de os juros fecharem o ano próximo dos 13%. O mercado financeiro espera que o BC continue promovendo altas na Selic, e estima que os juros deverão chegar ao patamar de 11,75% até o final de dezembro.

Até os economistas mais críticos dentro do próprio BC concordam com a escalada dos juros e a projeção definida para o ano "não poderia ser diferente". Isso porque a economia brasileira crescia, até o primeiro trimestre, a taxas anualizadas acima de 10% ao ano, índice considerado incompatível com a capacidade produtiva e de demanda do País.

Para Mauro Calil, professor do Centro de Estudos e Formação de Patrimônio Calil & Calil, o aumento da Selic é necessário por alguns motivos. "Na primeira reunião deste ano não houve aumento nenhum e já tínhamos indicativos de pressão inflacionária, agora o BC precisa elevar de forma mais agressiva do que quando houve a redução o ano passado. Outro motivo é que do lado do governo, em ano eleitoral, é melhor ter aumento de Selic do que aumento de inflação, que já é apontada pelos indicadores inflacionários no período anualizado em torno de 5%."

Na visão do presidente da Coteminas, Josué Gomes da Silva, o aumento em 0,75% foi um exagero. "Já há um consenso no mercado de aumento de 0,75 ponto percentual nos juros, mas eu acho que é um equívoco. Não creio que o Brasil esteja caminhando para um cenário de inflação descontrolada", declarou.

Contudo, Silva considerou natural uma nova alta na Selic, já que em sua avaliação, toda responsabilidade sobre o controle de preços no país está sobre o BC. "Seria saudável o governo trabalhar melhor o lado fiscal para permitir que o ônus do controle da inflação não recaia totalmente sobre o Banco Central. No entanto, ninguém vai conseguir controlar o preço do minério de ferro com alta de juros", afirmou.

A posição da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) é crítica com relação a decisão do Copom. "Mesmo contrariando opiniões, mantemos hasteada a nossa bandeira em defesa de juros mais baixos e outras reformas estruturais necessárias para o crescimento econômico do País", disse Benjamin Steinbruch, presidente em exercício da Fiesp.

A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomércio) aponta que, ao promover um novo aumento da Selic, o BC renova a façanha de manter o Brasil como o detentor da maior taxa de juros do mundo. "Uma liderança que nos ofende e, efetivamente, parece contrariar todos os esforços brasileiros de assumir cada vez mais o papel de protagonista na arena econômica global, uma vez que o patamar de juros cobrado no País se torna um dos principais fatores de comprometimento da competitividade do País em relação a seus concorrentes", relata o documento oficial.

"Nos preocupa o fato de que o aumento da Selic, agora em dois dígitos, interfere diretamente no bom momento vivido pela economia brasileira, conforme se constatou no resultado do PIB do primeiro trimestre de 2010", afirma o presidente da Fecomércio, Abram Szajman.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) vê com preocupação o retorno da taxa Selic ao patamar dos dois dígitos. "O BC espera que a economia brasileira cresça acima do desejável. Essa é uma avaliação equivocada", analisa a CNI.

Segundo os técnicos da instituição, o excepcional crescimento do PIB não deve orientar as expectativas para o restante do ano, porque os incentivos fiscais, criados para amenizar o impacto da crise internacional sobre a economia brasileira, foram extintos em março. A CNI lembra ainda que o aumento do investimento foi mais intenso do que o do consumo para o crescimento da economia no primeiro trimestre. A maturação desses investimentos aumentará a capacidade de produção da indústria, o que reduzirá eventuais pressões inflacionárias no futuro.

Para o Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de São Paulo (Ibef), o BC poderia ter reduzido o ritmo de alta da Selic para 0,50 pontos percentuais.

"O Banco Central não precisava ter mantido o ritmo do aperto monetário adotado na reunião de abril. Isso porque, caso sentisse nos próximos 45 dias que tal ritmo é mesmo necessário, ainda assim haveria tempo suficiente para que retomasse o ritmo mais agudo de altas nas próximas reuniões até o fim do ano."

O setor que puxou o crescimento recorde da economia brasileira no primeiro trimestre garante que perdeu o fôlego com a decisão comunicada ontem pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) de elevar a taxa básica de juros (Selic), que passou de 9,50% para 10,25% ao ano. Foi o segundo aumento seguido de 0,75 ponto percentual na Selic.

O presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e da Fiesp, Benjamin Steinbruch, contestou as justificativas que baseiam a decisão da autoridade monetária. "Os preços estão se comportando sem altas significativas mesmo antes de o primeiro aumento da Selic ter ocasionado efeito na atividade produtiva. Mesmo essas pressões localizadas de preços já sofrem processo de dissipação, o que nos leva a contestar a conservadora política monetária praticada no País."

Na visão de Josué Gomes da Silva, presidente da Coteminas, a maior indústria têxtil do País, o aumento foi exagerado. "Acho que é um equívoco. Não creio que o Brasil esteja caminhando para um cenário de inflação descontrolada", declarou.

O empresário considerou natural uma nova alta na Selic já que, em sua avaliação, toda responsabilidade sobre o controle de preços no País está sobre o Banco Central. "Seria saudável o governo trabalhar melhor o lado fiscal para permitir que o ônus do controle da inflação não recaia totalmente sobre o BC No entanto, ninguém vai conseguir controlar o preço do minério de ferro com alta de juros", afirmou. Josué é filho do vice-presidente da República, José Alencar.

Os bancos evitaram fazer críticas ao BC. "A decisão está dentro das expectativas do mercado financeiro, como apontam as taxas de juros futuros", disse a Federação Brasileira de Bancos.



Um comentário:

Anônimo disse...

Já está na hora dos lideres sindicais e empresários abandonarem a política monetário como bandeira de luta.

Política monetária é matéria técnica tratada com seriedade pelo Banco central. Esse tipo de atitude (criticar o BC), dos lideres sindicais e empresários, somente prejudica o bom andamento da política econômica de qualquer governo.

Comparar a política monetária do Brasil com a de outros países, como se existisse uma competição para quem pratica a taxa de juros mais baixa, é uma grande ignorância, pois as economias de cada país são diferentes entre si.

Os empresários, em alguns casos, até ganham com a inflação, dessa forma, até se entende a posição de defender os seus próprios interesses.

No caso das centrais sindicais de trabalhadores, defender a idéia de que o governo não deve se preocupar tanto com a INFLAÇÃO é PURA IGNORÂNCIA. É alienar o trabalhador. O nosso presidente sabe muito bem o prejuízo causado aos trabalhadores devido a inflação e qualquer que venha a ser o presidente eleito não será irresponsável de permitir inflação alta.