Por CARLOS ALEXANDRE
Correio Braziliense - 02/06/2009
As pesquisas de opinião favoráveis ao governo Lula, bem como o novo alarido em defesa do terceiro mandato, são uma perigosa tentação para o presidente. Embora tenha declarado mais de uma vez que desocupará o Planalto a partir de 2011, estranhamente a estrela maior do PT se comportou de forma indulgente com os governistas que na semana passada agiram com esmero na aprovação da proposta no Congresso. Mudar a legislação ao sabor dos momentos políticos sempre representa um risco. Coloca-se em questão méritos da democracia para justificar interesses partidários. A reeleição de Fernando Henrique provocou enorme desgaste, com denúncias de compra de votos para aprovar a emenda constitucional. E se o presidente Lula estivesse com a popularidade em frangalhos, seria o caso de providenciar uma lei que abreviasse o mandato do chefe do Executivo? Por outro lado, a aceitação do terceiro mandato permitiria a qualquer outro candidato ficar 12 anos no poder. O Brasil tem políticos preparados para esse desafio? Os defensores do terceiro mandato tiram proveito — sem explicitar, naturalmente — de uma suposta incerteza quanto à candidatura de Dilma Rousseff. Trata-se de vilania. Não há qualquer razão, nem clínica nem política, que justifique a transferência da candidatura de Dilma para outro postulante dentro da coalizão governista. A proposta também reforça uma tendência ao paternalismo, mal antigo da sociedade brasileira e antítese do discurso progressista do partido do presidente. O culto à personalidade não é o melhor conselheiro para se decidir os rumos do país — especialmente na América Latina, que tem histórico de democracias frágeis. Em pouco mais de seis anos de governo, Lula já acumulou notáveis feitos em sua administração. Criou empregos para milhões de pessoas, contribuiu para melhorar a renda do brasileiro, transformou o país em credor internacional. Mas também cometeu equívocos, como a desastrosa aproximação com Chávez e Ahmadinejad, notórios persecutores da liberdade de expressão e dos ideais democráticos. Mais do que um governo prolongado, o que o Brasil precisa é de instituições sólidas para o Estado cumprir a sua função. E nesse sentido o sucessor do presidente estaria em tese habilitado, seja aliado ou de oposição.
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