31 de julho de 2009

NÃO É PROBLEMA MEU, NÃO VOTEI NO SARNEY, DIZ LULA

MANCHETE DA FOLHA

Por PEDRO DIAS LEITE 31/07/2009

NÃO VOTEI NO SARNEY NEM PARA SENADOR", AFIRMA LULA


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mudou o tom do discurso sobre a crise que envolve o presidente do Senado, José Sarney (PMDB). "Não é problema meu. Não votei no Sarney para ser presidente do Senado nem votei para ele ser senador no Maranhão", afirmou Lula, em entrevista na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). O senador foi eleito pelo Amapá. Até então, o presidente vinha dando declarações públicas de apoio a Sarney. O presidente do Senado é alvo de acusações de nepotismo, de uso de atos secretos na Casa e de desvio de verba pública na fundação maranhense que leva seu nome. "Somente o Senado é que pode dizer se ele vai ficar ou não", disse Lula, que negou interferir no dia a dia do PT. Paulo Duque (PMDB-RJ), presidente do Conselho de Ética da Casa, afirmou que agora está informado sobre o caso de Sarney.
Depois de semanas de defesa enfática de José Sarney (PMDB-AP), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mudou o tom ontem em relação à crise que envolve o presidente do Senado: "Não é problema meu".
"Não votei no Sarney para ser presidente do Senado nem votei para ele ser senador no Maranhão", disse Lula. O senador foi eleito pelo Amapá, e não pelo Maranhão -teve 53,9% dos votos, em uma das votações mais apertadas de sua carreira.
"Não votei no [Michel] Temer [presidente da Câmara], não votei no Arthur Virgílio [senador do PSDB-AM], não votei em ninguém. Votei nos senadores de São Paulo, então quem tem de decidir se o presidente Sarney tem de ficar na Presidência do Senado é o Senado", afirmou.
Pela primeira vez, o presidente da República não deu como certa a permanência de Sarney no comando da Casa.
"Somente o Senado, que o elegeu, é que pode dizer se ele vai ficar ou não. Não sou eu", disse.
Até então, Lula vinha dando declarações públicas de apoio a Sarney, alvo de uma série de denúncias de nepotismo, uso de atos secretos e desvio de verbas públicas na fundação que leva seu nome, no Maranhão.
Ao lado da presidente do Chile, Michelle Bachelet, Lula chegou a se irritar com as perguntas sobre Sarney e a posição do PT em relação ao caso. "Deixa eu "hablar", Michelle. Tem 20 jornalistas e diz que vão fazer só duas [perguntas]. E, por coincidência, as duas são iguais. Como é que você acha que eu posso dizer sobre o destino da bancada do PT se eles estão de férias e vão voltar na segunda-feira? Não posso, não posso dizer, não posso dizer absolutamente nada", esquivou-se.
Desde o início da crise, o petista tem enquadrado o partido. No começo do mês, os senadores petistas foram obrigados a recuar de um pedido de afastamento do presidente do Senado. Nesta semana, nova nota dos petistas pedindo a saída de Sarney foi desautorizada.
Apesar de todas as evidências em contrário, Lula disse que não interfere no dia a dia do PT. Mandou que os repórteres ligassem "para o líder do PT na Câmara ou no Congresso" ou para o presidente do partido, Ricardo Berzoini, "que certamente gostará de dar as informações". Na prática, as bancadas do partido na Câmara e no Senado atuam o tempo todo sob o comando do presidente.
O governo e o próprio Sarney esperavam que o recesso de julho, aliado a um desgaste da repetição do assunto na mídia, amenizasse a situação de Sarney, o que não ocorreu. Lula disse esperar que "agora, com a cabeça fria", os senadores "decidam normalizar a atuação do Senado", envolvido em uma de suas piores crises. "Mais do que isso eu não posso pedir."
A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, encontrou-se com Sarney ontem no hospital Sírio-Libanês, onde ela foi fazer sessão de radioterapia e onde a mulher do senador, Marly, está internada por ter sofrido uma queda. Dilma reforçou que o governo defende a permanência de Sarney no cargo.
Lula e Bachelet deram entrevista na sede da Fiesp. O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), acompanhou toda a fala do petista. Ao final, quando repórteres abordaram o tucano para pedir que falasse sobre o tema, Lula deu um tapinha em suas costas e o alertou, em tom meio de brincadeira, meio sério: "Eles querem que você fale mal do Sarney". Serra não deu entrevista, dizendo que já tinha falado antes com jornalistas.

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