19 de abril de 2010

EM MINAS, SERRA DIZ QUE É CONTRA A REELEIÇÃO

Democracia Política e novo Reformismo
GILVAN MELO


BELO HORIZONTE



-O ex-governador José Serra, pré-candidato tucano à Presidência, criticou nesta segunda-feira a reeleição, proposta e aprovada no governo do seu aliado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Em entrevista à rádio Itatiaia, o tucano propôs que chefes de cargos executivos permaneçam um pouco mais no cargo, sem a possibilidade de renovação do mandato.

- Acho que reeleição não é coisa boa. Deveria ter cinco anos de mandato. Você chega e governa fazendo aquilo que tem de ser feito, não apenas de olho na reeleição - afirmou, pela manhã,

Atualmente, os mandatos são de quatro anos e podem se estender por mais quatro, como foram os casos de Fernando Henrique e de Lula. Serra citou Juscelino Kubitschek, construtor de Brasília, que, com o slogan "50 anos em cinco", ficou um mandato na Presidência, sendo pai de muitas realizações.

- Amadureceu fora do poder e pode voltar depois. Eu acho melhor - comentou.

Apesar do ponto de vista, o ex-governador reconheceu que, na condição de presidente, não teria como levar uma reforma eleitoral adiante sozinho.

- Vou colocar esse assunto e precisa ver se o Congresso concorda. Se não concordar, paciência. Mas eu vou defender - avisou.

O tucano afirmou que o atual presidente deveria alterar sua opinião sobre o tema:

- Conversei com o Lula, ele estava de acordo (com o fim da reeleição), mas mudou de ideia. E eu espero que mude de novo, porque o Lula, mesmo fora do governo, tem um peso político muito importante e eu espero manter o diálogo com ele.

Serra diz que 'PAC é uma lista de obras'

Em sua primeira visita como pré-candidato a Minas Gerais, estado tido como estratégico para seu sucesso nas eleições, Serra não poupou críticas ao governo Lula. No rádio, condenou a corrupção em setores da administração federal e o PAC, classificando-o de programa inconcluso. O tucano também atacou o MST por usar a reforma agrária como "pretexto" para seus objetivos políticos.

- O PAC é uma lista de obras, vamos ser realistas. A maior parte não foi feita. As obras, a gente tem que definir, tocar e fazer acontecer - comentou, quando questionado se daria continuidade ao pacote de projetos que é uma das principais bandeiras de sua adversária, a ex-ministra Dilma Rousseff (PT).

" O PAC é uma lista de obras, vamos ser realistas. A maior parte não foi feita "

Serra enumerou empreendimentos que há anos não saem da gaveta em Minas e são de forte apelo eleitoral, como a ampliação do Metrô de Belo Horizonte, a duplicação da BR-381, entre a capital e Governador Valadares, a expansão do Aeroporto de Confins e a requalificação do Anel Rodoviário da capital:

- Se está no PAC, não está no PAC, foi anotado ou não foi anotado, o fato é que não se avançou.

Discorrendo sobre práticas de outros governos que copiou, o ex-governador citou a exigência de currículo para ocupar cargos de livre provimento. Disse que, como ministro da Saúde, implantou o sistema na Fundação Nacional de Saúde (Funasa), que mais tarde teria sido entregue aos interesses políticos e privados:

-Tinha feito isso no Ministério da Saúde na Funasa, que hoje acabou loteada pelo empreguismo, pelo troca-troca, por denúncias de corrupção. Não é nem problema do atual ministro (José Gomes Temporão, PMDB), que é decente. Mas é o que foi destruído.

Perguntado sobre críticas do líder do MST, João Pedro Stédile, à sua candidatura, Serra disse que a reforma agrária não é, na prática, o foco do movimento, que pôs em curso o Abril Vermelho.

- Essa é que é a realidade. É um movimento político que não é fanático da democracia representativa e do Estado Democrático de Direito - opinou, dizendo ser favorável à redistribuição de terras no país e que é preciso dar mais produtividade aos reassentamentos que já existem.

" Quem é bom governante não perde tempo com picuinha, olhando para trás e dizendo: tal programa era do fulano e eu não vou fazer mais "

A despeito das críticas ao governo, o ex-governador manteve a estratégia de reconhecer os avanços da era Lula, vinculando-os, contudo, às bases lançadas pelo antecessor, Fernando Henrique Cardoso (PSDB). A redução da pobreza, segundo ele, só foi possível graças à estabilidade econômica e outras medidas, como o rigor imposto à administração pública.

- Este governo recolheu Plano Real, responsabilidade fiscal, mais verba para educação básica, coisas que vinham de antes. A gente vai governando, a gente pega as coisas que vieram dando certo e vai aperfeiçoando - afirmou.

Para ele, não dar continuidade a boas políticas públicas por causa de quem as implementou seria pequenez:

- Quem é bom governante não perde tempo com picuinha, olhando para trás e dizendo: tal programa era do fulano e eu não vou fazer mais

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