23 de setembro de 2009

CAMPO MINADO

EDITORIAL
O GLOBO 23/09/2209
O impasse institucional em Honduras assumiu tons dramáticos com o inesperado regresso ao país do presidente deposto Manuel Zelaya e seu refúgio na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa. Trata-se de uma situação inédita, pois o refúgio geralmente é concedido a pessoas que se vêm obrigadas a deixar um país, e não em sua volta a ele. A questão é delicadíssima, pois envolve a garantia de respeito à inviolabilidade da embaixada brasileira — como de resto de qualquer embaixada —, num momento em que ela abriga um presidente deposto que volta para tentar reassumir a Presidência.
Nesse quadro, agiu bem o presidente Lula ao pedir a Zelaya que não dê motivos para uma invasão da embaixada, que não pode transformar-se num palanque contra o atual governo nem em bunker do presidente deposto e seus partidários. Depois que os EUA pediram calma, o presidente em exercício e inimigo de Zelaya, Roberto Micheletti, assegurou que respeitará a integridade da representação diplomática brasileira em Tegucigalpa.
O impasse em Honduras se arrasta desde junho, quando Zelaya, aliado de Hugo Chávez, foi deposto pelas Forças Armadas, com apoio do Legislativo e do Judiciário, na véspera do referendo convocado para aprovar que concorresse a um novo mandato, o que é inconstitucional naquele país. Foi uma grave ruptura institucional que mobilizou o continente em busca de uma solução que passe pela volta ao poder do presidente eleito — Zelaya. Apesar dos esforços da OEA e de seu secretário-geral, José Miguel Insulza, o governo de fato se recusou a fazer qualquer concessão.
A situação criada em Tegucigalpa exige da diplomacia brasileira o máximo de habilidade para não protagonizar uma grave crise em outro país. É preciso absoluta segurança de que o governo brasileiro não foi conivente com a volta de Zelaya. A solução do impasse compete aos hondurenhos e passa, necessariamente, por negociações na OEA. Não se pode esquecer que o pano de fundo é um campo minado: Zelaya tanto é o presidente constitucional quanto instrumento do projeto bolivariano de Chávez.
O restabelecimento da normalidade institucional em Honduras não pode abrir a guarda para a “democracia” à la Chávez.

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