25 de setembro de 2009

MEIRELLES PRÓXIMO DO PMDB


Vicente Nunes

Correio Braziliense - 25/09/2009
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, praticamente selou o seu destino político ontem em almoço na casa do presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer. Ele indicou que assinará a sua ficha de filiação ao PMDB até a próxima terça-feira, dia 30. Mas, ao contrário do que vinha dizendo, deverá disputar uma vaga no Senado por Goiás e não no governo do estado. Meirelles disse a Temer que a adesão ao maior partido político do país só está dependendo de uma conversa que terá no domingo ou na segunda-feira com o presidente Lula, que, recentemente, manifestou o desejo de mantê-lo no comando do BC até o fim de seu governo. Assessores de Temer e de Lula garantem, porém, que a decisão de Meirelles de voltar à política já está tomada. Na verdade, ele quer tirar do presidente da República o compromisso de que indicará seu sucessor. Assim, acredita o presidente do BC, sinalizará ao mercado que não haverá mudanças na forma como a instituição vem sendo conduzida desde que tomou posse, em janeiro de 2003. Os dois nomes preferidos de Meirelles são os de Alexandre Tombini (diretor de Organização e Normas do BC) e de Mário Mesquita (diretor de Política Econômica). “Se realmente me candidatar e deixar(1) o BC em março de 2010, não há por que o BC ser motivo de preocupação entre os investidores”, vem dizendo ele a correligionários. Meirelles tem de se filiar até a quarta-feira da semana que vem, pois, naquele dia, viajará para Copenhague, Dinamarca, com Lula e Temer para participar da cerimônia na qual será anunciada a cidade-sede das Olimpíadas de 2016. O Rio de Janeiro é forte candidato ao título. De lá, ele seguirá para Istambul, na Turquia, onde acompanhará a reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI). “Está praticamente certo que ele se filiará ao PMDB. Há mais de duas semanas, ele vem costurando a sua entrada no partido. Já conversou como Íris Rezende e com deputados federais e estaduais de Goiás. O presidente do BC não faria esse movimento se não estivesse convencido da filiação”, afirmou um dos líderes do PMDB. A Temer, Meirelles assegurou que a sua opção mais segura é o Senado, já que a disputa pelo governo de Goiás está polarizada entre Íris e Marconi Perillo, do PSDB, cada um, com quase 40% das intenções de votos. “Meirelles não quer sair do BC, onde está fazendo um excelente trabalho, com grande reconhecimento internacional, para perder. Mas nada impede que até março de 2010, quando expira o prazo para a desincompatibilização do cargo dos que vão disputar a eleição, ele consiga inverter o jogo e saia para o governo goiano e Íris, para o Senado”, contou um amigo do presidente do PMDB. Oficialmente, Meirelles continua dizendo que ainda não tomou a decisão sobre a filiação política e que não sabe se será candidato em 2010. Também não descarta as negociações com o PP do atual governador goiano, Alcides Rodrigues, que lhe ofereceu a legenda para disputar a sua sucessão. Mas, aos mais próximos, não esconde o desejo de voltar à vida pública. Acredita que sua missão à frente do BC está se esgotando. Já é o presidente mais longevo da instituição, superando Ernane Galvêas, que comandou o banco por duas vezes, durante o regime militar. Há cinco anos seguidos, a inflação vem se mantendo dentro das metas e a taxa básica de juros (Selic) está no menor patamar da história, 8,75% ao ano. E, melhor, o Brasil está em processo de crescimento depois de um curto período de recessão, provocada pela crise mundial. 1 - Desconforto A decisão de Henrique Meirelles de permanecer no comando do Banco Central mesmo filiado a um partido político causa desconforto no mercado financeiro. Muitos analistas alegam que, candidato, Meirelles pode levar a instituição a decisões eleitoreiras, sem base técnica, minando a credibilidade construída com tanto esforço ao longo dos últimos anos. Ele nega veementemente a possibilidade de uso político do BC. E diz não ver nenhum problema continuar no cargo até março de 2010 mesmo ligado a uma legenda.
MemóriaConvite de Lula
Henrique Meirelles não foi a primeira opção do presidente Lula para a presidência do Banco Central. Logo que eleito presidente da República, em 2002, Lula convidou pelo menos três pessoas para comandar a instituição. Mas nenhuma aceitou. O nome de Meirelles chegou a Lula por meio do senador Aloizio Mercadante (PT-SP). Em dezembro daquele ano, em viagem a Washington, nos Estados Unidos, o então presidente eleito se encontrou com Meirelles e lhe fez o convite. Para integrar o primeiro time do governo petista, Meirelles teve que abrir mão do mandato de deputado federal para o qual havia sido eleito pelo PSDB de Goiás. Foi o parlamentar mais votado nas eleições de 2002. Ele também se desfilou do partido de oposição ao governo. Esse gesto aumentou o seu cacife junto a Lula. Mas foi no dia a dia da administração do BC que ele conquistou de vez a confiança do presidente. Desde o início do governo, Meirelles se aliou ao então ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Foi bombardeado principalmente pelo grupo liderado pelo ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que não aceitava a política ortodoxa executada pelo BC, sem qualquer concessão à inflação para gerar um pouco mais de crescimento em curto prazo. Quando Palocci deixou o governo, derrubado por denúncias de corrupção, Meirelles passou a se reportar diretamente a Lula, para não ter de prestar contas a Guido Mantega, que havia assumido a Fazenda. (VN)

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