28 de setembro de 2009

A CRISE EM HONDURAS, OU A FRIA EM QUE LULA, AMORIM E MARCO AURÉLIO GARCIA METERAM O BRASIL




A crise política aberta após a destituição de Manuel Zelaya do governo em Honduras voltou à estaca zero, com o retorno do ex-presidente ao país e seu refúgio na embaixada do Brasil em Tegucigalpa e o governo de facto negando-se a lhe devolver o poder. Zelaya e o presidente Roberto Micheletti haviam esboçado um diálogo nesta semana, mas essa possibilidade encontrou um obstáculo aparentemente insuperável: o retorno ao a do presidente deposto em 28 de junho.
Zelaya está sitiado na embaixada brasileira desde segunda-feira, quando retornou a Honduras para tentar reassumir o cargo de presidente. O impasse político, no entanto, continua, pois Zelaya afirma que só deixará a embaixada para retomar o poder. Isso está totalmente descartado - disse Micheletti. - Além disso, ele tem contas pendentes com a lei em nosso país.
Zelaya disse que não tem intenção de deixar Honduras nem recuar da pretensão de retornar ao cargo para o qual foi eleito. Ele convocou os hondurenhos a aumentar a pressão sobre o governo de fato.
Essa é a grande questão. O dilema que hoje pesa sobre o Brasil, que abandonou sua vocação para mediador da crise, passando a posição de protagonista da crise, com o presidente deposto de Honduras dentro da embaixada conclamando a população a praticar atos de ‘desobediência civil’
O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, abrigado na Embaixada brasileira há mais de seis dias, exortou ontem a população do país a “promover atos de desobediência civil” contra o regime de Roberto Micheletti.
“Chamamos (o povo) à resistência para vencer aos que nos roubaram a paz, e a organizar-se, em cada aldeia, bairro, povoado, município, para fazer atos de desobediência civil contra a ditadura”, diz comunicado.A incitação contraria uma orientação do governo do presidente Lula. O chanceler Celso Amorim pedira a Zelaya que não fizesse a partir da embaixada “qualquer tipo de manifestação que possa ser interpretada de maneira equivocada”. Ocupada por 63 pessoas, a embaixada brasileira começa a ter uma rotina traumática.

Temor de invasão ronda a embaixada

Francisco Catunda, encarregado de negócios e responsável pela Embaixada do Brasil em Honduras conta que temeu perder o controle da situação, após a chegada de Manuel Zelaya. Os funcionários vivem em meio a boatos de invasão. De acordo com Catunda, a situação na Embaixada não é nada boa. Segundo ele, atualmente existem 63 pessoas do grupo de Zelaya no local e apenas quatro funcionários, o que tornaria difícil controlar a situação.
Ao abrir as portas de sua embaixada em Honduras para o presidente deposto Manuel Zelaya, o Brasil acabou atraindo para si um problema não era necessário envolver nosso país diretamente. E, pior com Zelaya transformando a embaixada em quartel-general para recuperar o poder, o Brasil deixou a condição de pretenso mediador do conflito e de líder natural na região e passou a ser integrante da crise, sendo obrigado a recorrer ao Conselho da ONU para levantar o cerco a embaixada, bem como a Espanha e a outros países, a quem Lula foi obrigado a recorrer. A situação pode ficar pior se for confirmada a participação na volta de Zelaya.
O ex-embaixador do Brasil em Washington Rubens Barbosa acha que Honduras e a América Central são de interesse periférico para o país que, por isso, deveria fazer como os demais: condenar o golpe, e não atuar diretamente. Ele lembrou que em outras ocasiões, como no caso entre a Argentina e o Uruguai, por conta da instalação da indústria papeleira às margens do Rio da Prata, o Brasil abriu mão de seu papel de principal líder da região. - O Brasil não quis se envolver na disputa entre Argentina e Uruguai. Fica estranho, agora, ver o envolvimento nas questões de Honduras – disse’
Em seu blog no GLOBO, o ex-ministro das Relações Exteriores Luiz Felipe Lampreia também criticou a atuação brasileira. Em sua análise, Zelaya está usando a embaixada como trampolim $seus planos de voltar ao poder, colocando o Brasil numa situação desconfortável. "Creio que foi um erro admitir na Embaixada do Brasil o presidente deposto de Honduras, no seu regresso a Tegucigalpa. Não será o primeiro de uma longa série de equívocos que marca a condução de nossa política externa na atual gestão."
São cada vez mais fortes as versões de envolvimento de países das Américas do Sul e Central no regresso do presidente deposto Manuel Zelaya a Honduras. Todas e envolvem não apenas Venezuela, Nicarágua e El Salvador, mas também o Brasil.
Cháves já admitiu publicamente sua participação na trama. Das duas uma, ou o Brasil participou ativamente da operação retorno de Zelaya, ou Chávez parceiro de Lula, arquitetou toda a manobra e colocou o abacaxi na mão de Lula, que, em sua ânsia de tornar-se liderança internacional, ingenuamente deixou-se envolver no imblogio
Na Venezuela, Nelson Bocaranda Sardi no jornal “El Universal”, relatou a operação de retorno do presidente deposto, afirmando que o Brasil participou do planejamento do o retorno de Zelaya.
Bocaranda diz que a Venezuela tinha três planos para a volta de Zelaya e que eles teriam sido passados a um alto funcionário do governo brasileiro, que ele insinua que seria Marco Aurélio Garcia. A estratégia seria a seguinte: Zelaya retornaria a Honduras e se abrigaria em nossa embaixada, atestando a importância internacional do Brasil. Simultaneamente, Lula faria o discurso de abertura de Assembléia da ONU, incluindo em seu pronunciamento a questão hondurenha, enfatizando a condenação ao governo de Micheletti, buscando o apoio internacional a um retorno de Zelaya a presidência. Zelaya teria seguido com um guarda-costas venezuelano, e vários mercenários venezuelanos. Entretanto, o boquirroto Chávez acabou anunciando o retorno antes que Lula chegasse ao prédio da ONU, deixando Lula contrariado com um resultado diferente do previsto.
Micheletti garante liberdade para Zelaya

O presidente de facto de Honduras, Roberto Micheletti, sugeriu que poderia suspender a ordem de prisão contra Zelaya se ele sair da embaixada na condição de asilado político.
O governo de Roberto Micheletti resiste bravamente por mais de três meses a todas as pressões e retaliações formuladas por vários países e de organismos internacionais. A condenação que lhe fez a comunidade internacional, buscando isolar o governo do pequeno país não alcançou resultados até agora. Obstinadamente, Micheletti cuidava da realização das eleições agendadas para o próximo 29 de novembro, esperando solucionar a crise através do resultado dessas eleições. O retorno de Zelaya, patrocinado por Chávez com a cumplicidade da Nicarágua e El Salvador, incluindo também o Brasil foi uma manobra para impedir a realização de eleições em Honduras.
Honduras impede entrada de represenantes da OEA

Um grupo de cinco diplomatas da Organização dos Estados Americanos (OEA) foi impedido de entrar em Honduras neste domingo, segundo o presidente da Comissão de Direitos Humanos do país, Armando Veloz, informação confirmada por um oficial da imigração hondurenha à agência Reuters e por um diplomata à agência France Presse. Quatro deles foram expulsos de Honduras, segundo o único funcionário que permaneceu no país, o chileno John Bieh.
O grupo partiu de El Salvador e iria preparar a chegada da missão principal da OEA, formada por 15 diplomatas e prevista para terça-feira, que vai tentar negociar uma solução para a crise política em Honduras.
O governo de Roberto Michelleti recusou a entrada dos funcionários sob o argumento de que eles não apresentaram as credenciais diplomáticas à chancelaria hondurenha. A OEA, as Nações Unidas e o Brasil não reconhecem a legitimidade do governo de Roberto Michelleti e, portanto, os funcionários não estão autorizados a encaminhar um pedido formal para entrar no país.
Desde sexta-feira (25), a estratégia do governo de Michelleti é forçar a comunidade internacional a reconhecer a autoridade do seu governo, exigindo pedido de autorizações, até mesmo para a entrada de brasileiros na Embaixada do Brasil
Também neste domingo, o Brasil rejeitou o prazo de 10 dias dado pelo governo interino de Honduras para que defina o status do presidente deposto Manuel Zelaya, que está refugiado na embaixada brasileira em Tegucigalpa desde segunda-feira.
Em entrevista coletiva concedida em Isla Margarita, na Venezuela, onde participou da 2ª Cúpula América do Sul-África, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que não aceita ultimato de governo "golpista" e que o Brasil não negocia com quem "usurpou o poder".
"O governo brasileiro não acata ultimato de golpista, e nem o reconheço como governo", afirmou o presidente. "A palavra correta é golpista. Usurpador de poder. Essa é a palavra correta, e o governo brasileiro não negocia com ele."
Em um comunicado de sua chancelaria neste domingo, o governo interino havia dito que se o prazo de 10 dias não for atendido será obrigado "a tomar medidas adicionais, conforme o direito internacional".
"Nenhum país pode tolerar que uma embaixada estrangeira seja utilizada como base de comando para gerar violência e romper a tranqüilidade, como o senhor Zelaya tem feito desde sua entrada em território nacional", afirma o comunicado.

"Ofensiva final"

O governo interino acusa o presidente deposto de "usar a embaixada para instigar a violência e a insurreição contra o povo hondurenho e seu governo constitucional".
Em um comunicado lido em uma rádio local, Zelaya chamou seus seguidores para se reunir em uma "ofensiva final" em Tegucigalpa para pressionar por sua restituição.
Lula disse que o ministro brasileiro de Relações Exteriores, Celso Amorim, telefonou ao presidente deposto, pedindo que ele deixasse de usar a sede da diplomacia brasileira para atividades políticas.
"Se o Zelaya extrapolar, vamos chamá-lo e dizer que não é politicamente correto utilizar a embaixada brasileira para ficar fazendo incitação a qualquer coisa além do espaço democrático que nós estamos dando para ele", disse Lula.
De nada valeram até agora as advertências reiteradas do Brasil a Zelaya para que este pare de incitar a rebelião enquanto estiver abrigado na missão do País.
Além de Zelaya, cerca de 60 de seus seguidores também estão abrigados na embaixada, que permanece cercada por policiais.
No sábado, milhares de apoiadores de Zelaya voltaram às ruas em um protesto para marcar os 90 dias da deposição do presidente e exigir seu retorno ao poder.

Eleições

O líder deposto pediu a seus partidários que persistam com suas manifestações de rejeição ao governo golpista. Ao ser perguntado qual seria o status diplomático que o Brasil dará a Zelaya, o presidente brasileiro, que participa da reunião de cúpula entre países da África e da América do Sul, disse que o governante deposto "ficará hospedado (na embaixada) até que a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a Organização das Nações Unidas (ONU) decidam o que fazer".
Lula disse que a saída para a crise em Honduras depende das Nações Unidas e da OEA, "que exigiram a restituição imediata e incondicional de Zelaya à Presidência".
"Quem tem que negociar é a OEA, que já tomou decisões, é o Conselho de Segurança das Nações Unidas, que já tomou decisões", afirmou.
As eleições gerais em Honduras estão marcadas para 29 de novembro. Dos seis candidatos presidenciais inscritos, quatro se mantêm na disputa. Os outros dois representantes da esquerda, afirmam que não participarão do pleito se a ordem constitucional não for restituída com o regresso de Zelaya ao poder

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