Por CARLOS ALEXANDRE
CORREIO BRASILIENSE Brasília, 04 de Agosto de 2009
Deveria ser desnecessário dizer que rotular de “imbecis” os críticos do programa Bolsa Família, como vociferou o presidente Lula na semana passada, se trata de uma forma imprópria e chula para abordar o tema, especialmente quando a frase provém do político mais conhecido do Brasil no exterior, reeleito e com altos índices de popularidade. Não consta, porém, que Luiz Inácio Lula da Silva vá modificar o estilo retórico tampouco as habituais desobediências à liturgia do cargo. Não foi a primeira nem será a última vez que o chefe do Executivo utilizará termos deselegantes e agressivos para dar ênfase a suas opiniões.
Rompantes verbais podem acontecer com qualquer um. Para citar dois exemplos e ficar apenas entre chefes de Estado, podemos nos lembrar do recente impropério dito por Obama, ao classificar de estupidez a prisão equivocada de um professor negro de Harvard, confundido por ladrão. A má repercussão da frase obrigou o homem mais poderoso do mundo a convidar o policial envolvido no episódio a tomar uma cervejinha nos jardins da Casa Branca. No Brasil, um caso conhecido no governo FHC ocorreu quando o grão-tucano chamou de “vagabundos” os brasileiros que se aposentam antes dos 50 anos. Naturalmente, os autores das frases alegam que fizeram tais declarações em um contexto. Ocorre que o único contexto em que um presidente se manifesta é político. Por isso a redobrada cautela com as palavras.
Dito isso, cabe acrescentar como o discurso agressivo, especialmente na política, pode levar a armadilhas. Se os críticos do Bolsa Família são ignorantes e imbecis, o que seriam os opositores do Plano Real? Deveríamos chamá-los de facínoras? É de se perguntar, pois, qual seria a forma de tratamento adequada para os mensaleiros, ou para os políticos que praticam o caixa-dois, ou mesmo para os “aloprados” — o termo já denota um juízo de valor sobre seus atos —, ou ainda para os parlamentares que se lixam para a opinião pública, ou para os homens públicos que se refestelam no nepotismo ou na profusão de funcionários recrutados sem concurso. Como se vê, a lista de imbecis do Brasil pode ficar abrangente demais.
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