3 de agosto de 2009

LIGAÇÕES COMPROMETEDORAS

Por SIMON ROMERO


O GLOBO - 03/08/2009

Apesar das repetidas negativas do presidente Hugo Chávez, agentes do Estado venezuelano continuam a apoiar as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Eles ajudam os guerrilheiros a conseguir armas e até obter carteiras de identidade para que eles circulem livremente por todo o território da Venezuela. A informação foi descoberta em computadores dos rebeldes apreendidos nos últimos meses e avaliados por agências de inteligência ocidentais.
O material mostra colaborações detalhadas entre a guerrilha colombiana e militares de alta patente e membros dos serviço de inteligência da Venezuela. As evidências contrariam Chávez, que vem fazendo constantes declarações de que seu governo não se relaciona com as Farc.
- Nós não os protegemos - disse o presidente em julho.
As novas provas chegam num momento ruim da relação entre Venezuela e Colômbia. Em julho, Chávez interrompeu os laços diplomáticos, em resposta às declarações do governo colombiano de que os lança-mísseis suecos vendidos à Venezuela acabaram nas mãos das Farc. A reação venezuelana foi alimentada também pelos planos da Colômbia de aumentar a presença de militares americanos em seu território.
- O governo colombiano está tentando construir um fato na mídia contra nosso país, algo que serve à sua agenda política - disse Bernardo Álvarez, embaixador da Venezuela em Washington, descrevendo as novas evidências como "informação não confirmada".
Intenção de comprar armas na Venezuela
Chávez vem rebatendo as acusações de proximidade com as Farc desde o ano passado, quando forças colombianas tomaram um acampamento dos guerrilheiros no Equador. Na operação, foram encontrados computadores de um comandante dos rebeldes, contendo e-mails encriptados que mostravam que havia um relacionamento forte entre o governo venezuelano e os guerrilheiros, que já se refugiaram no país de Chávez.
A recente revelação - há material capturado em maio - mostra que pouco mudou na proximidade entre Farc e o governo venezuelano desde a operação colombiana do ano passado. O "New York Times" obteve uma cópia do material encontrado, sob análise de uma agência de inteligência.
Uma mensagem de Iván Márquez, comandante rebelde que supostamente opera livremente na Venezuela, descreve um plano das Farc de comprar mísseis terra-ar, rifles e rádios na Venezuela. Não está claro se o armamento a que ele se refere chegou a ser adquirido. Mas ele escreveu que o objetivo vinha sendo facilitado pelo general Henry Rangel Silva, que era diretor da agência de inteligência da polícia venezuelana até ser removido da função no mês passado, e por Ramón Rodriguez Chacín, ex-ministro do Interior da Venezuela e nomeado por Chávez como emissário oficial junto às Farc na libertação de reféns em 2008.
Na mensagem, Márquez discute o plano de Chacín de transportar as armas pela região próxima ao Rio Negro, em solo venezuelano. O guerrilheiro vai além e explica que o general Rangel forneceu aos guerrilheiros documentos que eles poderiam usar para se mover livremente pela Venezuela.
As últimas provas que envolvem a Venezuela e as Farc podem pôr em xeque a política de Obama para a região. O presidente americano tem tentado retomar relações amistosas com Chávez, após a constante tensão do governo Bush. Mas Estados Unidos e Europa ainda classificam as Farc como organização terrorista.
- Não comentamos assuntos de inteligência - esquivou-se Noel Clay, porta-voz do Departamento de Estado, sobre as últimas comunicações capturadas

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