5 de agosto de 2009

COLLOR GANHA PARABÉNS ATÉ DE LULA

DE DANIEL PEREIRA e TIAGO PARIZ



Correio Braziliense - 05/08/2009

Lula parabeniza Collor

Em reunião reservada no CCBB, presidente elogia atuação de senador alagoano em defesa de José Sarney
Duas semanas depois de elogiar em público o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL), na inauguração de uma obra em Alagoas, ontem foi a vez de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afagá-lo numa audiência fechada no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Segundo relato de integrantes da base governista no Senado, Lula parabenizou o parlamentar, por quem foi derrotado na eleição presidencial de 1989, pela atuação em defesa da permanência de José Sarney (PMDB-AP) no comando do Congresso. Na última segunda-feira, Collor liderou a ofensiva de intimidação deflagrada por aliados de Sarney contra os adversários do peemedebista na Casa.
Enérgico como nos velhos tempos de campanha presidencial, Collor chegou a mandar o senador Pedro Simon (PMDB-RS) “engolir” e “digerir” as palavras antes de pronunciar seu nome. Na reunião de ontem, Lula estendeu os elogios ao líder do PMDB Renan Calheiros (PMDB-AL), outro protagonista do bate-boca com o parlamentar gaúcho, e ao senador Wellington Salgado (PMDB-RJ), um dos soldados mais fiéis da tropa de choque aliada ao Planalto. Para Lula, a atuação de segunda-feira deve servir de exemplo, ao mostrar uma bancada disposta a “comprar briga” e a trabalhar pela vitória da coalizão governista na eleição de 2010.
Desde o início da crise, o presidente da República opera para blindar Sarney. Com isso, espera estreitar os laços do PMDB com a candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. E, ao mesmo tempo, afastar o maior partido do país da corte feita por PSDB e DEM, que estão à frente da operação “fora, Sarney”. Ontem, Lula repetiu a Collor esse raciocínio. Aproveitou ainda para pedir ajuda na CPI da Petrobras. A meta é manter a comissão sob controle, a fim de impedir prejuízos nos investimentos da empresa e na candidatura da “mãe do PAC”. “Neoaliado” de Dilma, Collor está fechado com o Planalto também nessa queda de braço, conforme colegas do PTB.
Representações
O presidente do Conselho de Ética do Senado, Paulo Duque (PMDB-RJ), já decidiu o que fazer com parte das denúncias contra Sarney. A tendência é arquivar as cinco primeiras sob argumento de que não configuram quebra de decoro parlamentar. Duque anunciou ontem que pretende apresentar suas conclusões hoje, mas os defensores de panos quentes no caso apostam que a reunião será adiada. Para isso, lembram que, na mesma hora da audiência no colegiado, está previsto um discurso de defesa do presidente do Senado.
Os primeiros pedidos de investigação abordam a relação de Sarney com as decisões sobre nomeação, exoneração e pagamentos de benefícios que não foram publicadas nos boletins do Senado. Os aliados do senador alegam que esse é um “erro administrativo” da antiga diretoria da Casa. Há também questionamento sobre a atuação do neto José Adriano Cordeiro Sarney, filho do deputado Zequinha Sarney (PV-MA), como intermediador de crédito consignado na Casa. Os defensores do arquivamento sustentam que o senador não pode ser responsabilizado por atos do parente.
O PSDB pede também investigação sobre suposta irregularidade no desvio de R$ 1,3 milhão de patrocínio da Petrobras à Fundação José Sarney, constituída para manter um museu com acervo da época em que ele era presidente da República (1985-1990). Sarney disse não ser responsável pela administração da instituição.

Memória
De rivais a aliados
Hoje, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), tem no senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) um dos fiéis aliados para se manter na cadeira mais alta do Congresso. A crise que sacode a Casa e testa a resistência do cacique maranhense mostrou-se como oportunidade para fechar feridas. Os dois já foram fortes adversários. Na época em que Sarney era presidente da República (1985-1990), Collor cumpriu o papel que o senador Pedro Simon (PMDB-RS) tem protagonizado atualmente.
Na campanha eleitoral de 1989, nenhum candidato defendeu o governo vigente de Sarney, mas Collor o atacou tanto que o então presidente chegou a cogitar entrar com uma ação por crime contra a honra. Quando era governador de Alagoas, Collor acusou Sarney de tentar “bater a carteira da história” por tentar estender seu mandato por mais um ano.
Mesmo com tal desavença no passado recente, ambos reconstruíram laços. Collor age para sustentar Sarney como presidente do Congresso Nacional. Vê nesse movimento uma possibilidade de se reerguer, de reconstruir sua imagem. O senador alagoano argumenta que, assim como ele, José Sarney é vítima de uma campanha difamatória da imprensa.
O discurso inflamado de Fernando Collor na segunda-feira, criticando Pedro Simon e defendendo o presidente do Senado, foi apontado, inclusive, como uma lembrança de como ele agia durante sua época na presidência (1990-1992): ríspido e inflamado. (TP)

Protesto contido
Um grupo de cerca de 15 representantes da Conlutas, central que reúne sindicalistas e movimentos sociais e estudantis, ocupou as galerias do Senado para pedir a saída do presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP). Usando máscaras cirúrgicas, os manifestantes levantaram uma enorme faixa com a inscrição: “Fora Sarney. Fim do Senado, por uma Câmara única”. O protesto foi rapidamente contido pelos seguranças, que confiscaram o cartaz e expulsaram os militantes.
Missões de Duque

O presidente do Conselho de Ética, Paulo Duque (PMDB-RJ), prometeu apresentar hoje o parecer sobre as cinco primeiras denúncias referentes à crise que assola o Senado. Quatro são relacionadas ao presidente José Sarney (PMDB-AL) e uma pesa contra o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL).
Atos Secretos

O PSol questiona no colegiado, em duas representações, a responsabilidade de José Sarney e de Renan Calheiros com os atos secretos. Em uma terceira denúncia, o PSDB pede que o conselho investigue o presidente do Senado pelo mesmo motivo. Foram mais de 500 decisões não publicadas, envolvendo contratação, exoneração e pagamento de funcionários. Desvio
O PSDB pede investigação sobre um patrocínio de R$ 1,3 milhão da Petrobras à Fundação Sarney, entidade criada para manter um museu que tem como acervo principal o material bibliográfico acumulado na época em que José Sarney foi presidente da República. Consignado
Os tucanos também acionam Sarney pela acusação de que o neto dele José Adriano Cordeiro Sarney, filho mais velho do deputado Zequinha Sarney (PV-MA), atuou em supostas irregularidades na gestão de créditos consignados no Senado. Próximos capítulos
Seis novas denúncias serão colocadas em pauta até sexta-feira. A mais forte contra José Sarney o liga diretamente aos atos secretos. Em um grampo da Polícia Federal, ele aparece em conversa com o filho Fernando Sarney discutindo a indicação do namorado da neta Maria Beatriz para um cargo no Senado. A nomeação foi concretizada pelo ex-diretor-geral da Casa, Agaciel Maia, em ato não publicado.

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