12 de agosto de 2008

REFERENDO NA BOLÍVIA APONTA DIÁLOGO COMO ÚNICO CAMINHO

Situação e oposição estão sendo obrigadas a admitir que o diálogo é o único caminho na Bolívia, após o referendo que ratificou o mandato do presidente Evo Morales e dos governadores de oposição. Morales obteve a aprovação de 63%. O referendo de domingo também ratificou a permanência de Rubén Costas de Santa Cruz (66,6%), Mario Cossio de Tarija (64,5%), Ernesto Suárez de Beni (61,2%) e Leopoldo Fernández de Pando (56,3%). segundo as projeções extra-oficiais divulgadas pela emissora ATB.
Como se vê as votações foram equilibradas, com percentuais equivalentes para ambos os lados. Morales foi ratificado em quatro dos nove departamentos do país: La Paz, Oruro, Potosí e Cochabamba, os e maior índice demográfico, onde os moradores são de maioria aymara e quéchua e apóiam o projeto da nova Constituição. Enquanto perdeu em Santa Cruz, Beni, Pando, Tarija e Chuquisaca, a região amazônica do país e de maior potencial econômico. Após sua vitória, apoiada principalmente pelo voto dos agricultores e trabalhadores do campo, o presidente convocou na noite de ontem a unidade entre os bolivianos, principalmente em relação ao projeto da nova Constituição e os estatutos autonômicos dos departamentos de oposição.
Morales ganhou com a derrota dos governadores oposicionistas dos departamentos de La Paz e Cochabamba, sedes do seu movimento de cocaleiros. Mas um governador aliado do governo foi derrotado no departamento de Oruro, também no altiplano. Morales nomeou governadores interinos até que ocorram eleições regionais nesses departamentos.
O governador de Cochabamba, Manfred Reyes, recuou-se a renunciar após a derrota de ontem e disse que o referendo foi inconstitucional. No final do ano passado, sangrentos choques de rua irromperam em Cochabamba, com os partidários de Morales tentando afastar Reyes.
O governador Rubén Costas, de Santa Cruz, obteve um forte apoio na votação do referendo. Ele disse que o plebiscito de ontem significou uma "derrota para o centralismo" e disse que agora seu departamento criará sua força policial própria e convocará os eleitores para elegerem uma assembléia legislativa. Santa Cruz foi a primeira das quatro províncias a se declararem autônomas neste ano, no que foi uma proclamação em grande parte simbólica.
Segundo o governador de Santa Cruz, que defende a autonomia de departamento e se opõe categoricamente ao projeto de Morales, "nos resultados há uma ordem implícita da população, que quer dizer 'cheguem a um acordo'".
De Chuquisaca, a governadora Sabina Cuellar (a única que não teve seu mandato questionado pelo referendo revogatório) pediu a Deus que "o governo reconheça seus erros, se reconcilie com a Bolívia e convoque de uma vez o diálogo".
Nesse mesmo sentido se pronunciou o ex-presidente do país Jorge Quiroga, líder do principal partido de oposição (Podemos), que considerou que "a única saída é o entendimento, para que a Constituição seja de todos".
Mirtha Quevedo, do Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), também pediu por "um grande acordo nacional", após interpretar os resultados como um "sinal de maior confrontação". Segundo o sociólogo aymara Félix Patzi, ex-ministro da Educação de Morales e da ala radical aliada ao governo, com o referendo "a população disse que pode haver diálogo entre os que dizem que querem transformação e os que têm uma posição de autonomia". Jorge Lazarte, ex-porta-voz da Corte Eleitoral, destaca que "embora Morales tenha saido fortalecido", com um apoio maior do que o registrado em 2005, "os líderes regionais da oposição autonomista também saem mais fortes do que estavam", pois todos duplicaram sua porcentagem de votos.
Mas o empate político que gerou um obstáculo ao diálogo sobre as mudanças constitucionais irá persistir porque "os resultados fortalecem os pólos da contradição e, portanto, ninguém está suficientemente fraco para precisar de uma negociação.

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