10 de agosto de 2008

COMEÇA CALMO REFERENDO NA BOLÍVIA APESAR DAS TENSÕES E DO ENFRENTAMENTO ENTRE GOVERNO MORALES E OPSIÇÃO

Já iniciado na Bolívia o referendo para decidir se o presidente Evo Morales continua no cargo. O clima é de relativa calma. O objetivo do referendo, proposto pelo líder boliviano para solucionar as questões políticas que dividem o país, decidirá se o presidente, seu vice e os principais líderes regionais - a maioria fazendo oposição a Morales - permanecerão ou não nos cargos. Mas o referendo revocatório já está cercado de confusão sobre qual é a porcentagem de votos que os governadores precisam para se manter no cargo, o que pode deixar os resultados abertos a contestação. Há ainda muitas dúvidas sobre se o referendo vai ajudar a reduzir a aguda polarização social e geográfica na Bolívia e tornar o país mais governável
Em maio passado, o presidente Morales concordou em convocar o referendo em parte porque acreditava que poderia usá-lo para retomar a iniciativa política de seus oponentes nos departamentos (equivalentes a Estados) do leste do país, que são ricos em gás.
Nos últimos três meses, a oposição vem comandando a agenda política. Nos chamados departamentos "meia-lua" de Santa Cruz, Beni, Trinidad e Tarija, maiorias significativas votaram por maior autonomia do governo central em várias áreas.
O governo rejeitou os referendos regionais como ilegais e culpou os governadores de direita por tentarem dividir o país

Dúvidas persistem

As regras para a votação de domingo são complexas e ainda cercadas de dúvidas:
* O presidente Morales e o vice, Álvaro García Linera, terão que deixar seus cargos se mais de 53,7% dos eleitores manifestarem desejo de afastá-los - esta foi a porcentagem dos votos que os políticos receberam nas eleições de 2005.
* Depois de um acordo no dia 31 de julho entre o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e a maioria dos tribunais dos departamentos, os governadores regionais perderão seus cargos se mais de 50% dos eleitores decidirem por sua remoção.
* Antes do acordo de julho, os governadores tinham que garantir o mesmo número de votos obtidos nas eleições de 2005, mais um, para não perder seus cargos. O novo acordo na verdade baixou a porcentagem necessária para a manutenção dos políticos em seus cargos e aumenta a probabilidade de que vários deles sobrevivam.
* Apesar do acordo de 31 de julho, os resultados ainda podem ser questionados. Morales disse que ele não tem certeza se o CNE pode emendar as regras; o governador regional de Cochabamba, Manfredo Reyes, recusou-se a aceitar a base constitucional para o referendo; e dois dos nove tribunais departamentais do país (Santa Cruz e Oruro) não ratificaram o acordo.

GOVERNO DENÚNCIA TENTATIVA DE GOLPE DE ESTADO

O presidente Evo Morales anunciou que a Bolívia está no "limite de um verdadeiro golpe de Estado contra a ordem constitucional" com o objetivo de derrubá-lo, e atribuiu o plano aos governadores regionais opositores de regiões autonomista. O ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, braço direito de Morales no governo, se referiu ao suposto complô em declarações realizadas à rádio estatal "Patria Nueva", na cidade de amazônica de Trinidad, no departamento de Beni. Quintana, o, disse que esta ação está sendo gerida "ao típico estilo das ditaduras que antecederam a recuperação da democracia em 1982".
Ocorreram choques, manifestações e protestos, com denúncias de ambos os lados. Dois mineiros morreram.
Felipe Machaca, membro da direção da Central Operária Boliviana, entidade que convocou as manifestações para exigir uma reforma no sistema de aposentadoria, acusou o governo, ”Isso é um massacre e o único culpado é Evo Morales”, disse às estações de rádio católicas Erbol e Fides.
O ex-presidente da Bolívia, Jorge Quiroga (2001-2002), líder da aliança opositora Poder Democrático e Social (Podemos), afirmou nesta quinta-feira, 7, que a denúncia do governo do presidente Evo Morales, de que o país está à beira de um golpe de Estado, é uma "cortina de fumaça em que ninguém acredita". Quiroga disse em entrevista coletiva que o Executivo "já formulou 38 vezes essa denúncia" que, segundo sua opinião, "carece de veracidade."
Na prática, o que se percebe é qualquer que seja o resultado, o referendo não significará o ponto final na disputa entre o governo e a oposição regional, que nos últimos meses paralisou a Bolívia. "A consulta não será uma solução para nenhum dos lados, mas só irá aprofundar o confronto", disse ao Estado Fernando Molina, diretor do semanário político e econômico Pulso, um dos mais respeitados do país.
"Se as pesquisas se confirmarem, é verdade que Evo ganhará um voto de confiança da população, mas líderes opositores importantes, como o governador de Santa Cruz, Rubén Costas, que se opõe às mudanças do presidente, também obterão ótimas votações", diz ele

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