28 de janeiro de 2010

Obama é o primeiro candidato negro à Presidência por um grande partido


No começo da campanha eleitoral, ainda em 2007, poucos apostavam na candidatura de Barack Hussein Obama. Senador por Illinois em seu primeiro mandato, ele era um desconhecido diante da ex-primeira-dama Hillary Clinton
Mas com uma estratégia bem definida --ganhar as pequenas votações e "caucus" (assembléias de eleitores)-- e a percepção de que os eleitores buscam uma mudança na administração do país --principal lema de sua campanha--, Obama conquistou a nomeação democrata com o apoio em massa dos superdelegados após as últimas primárias democratas.
Na noite de 3 de junho, após a contagem dos votos de Montana e Dakota do Sul, a equipe de campanha de Obama celebrou a conquista inédita. Obama é o primeiro negro a se tornar candidato à Presidência dos EUA por um grande partido.
E a questão racial, mesmo que de forma velada, pontuou a campanha do senador. Após a descoberta dos sermões controversos de Jeremiah Wright, seu ex-pastor por 20 anos com quem teve que romper, Obama fez um discurso sobre a temática que ficou marcado como exemplo do poder de sua retórica que atrai milhares aos seus comícios.
"Escolhi disputar a Presidência neste momento histórico porque acredito profundamente que não podemos resolver os desafios de nossa era a não ser que o façamos juntos, a não ser que aperfeiçoemos nossa união ao compreender que, embora nossas histórias pessoais possam diferir, temos esperanças comuns", disse Obama, na época.
Mesmo sem anunciar constantemente o fato de poder ser o primeiro presidente negro dos EUA, é entre os eleitores negros que Obama tem os maiores índices de votação. Uma pesquisa recente do instituto Gallup mostrou que Obama tem 93% das intenções de votos entre este eleitorado.
Contudo, outra pesquisa do mesmo instituto avaliou o impacto da questão racial e mostrou que uma grande maioria dos eleitores negros, 78%, e uma maioria ainda maior dos eleitores brancos, 88%, negam a influência da questão racial em seu voto. O mesmo cenário aparece entre os eleitores hispânicos; 60% deles afirmam que não votam por questões raciais.
Outro grande eleitorado de Obama está na camada mais jovem da população, os estudantes de classe média e alta que vivem em meio à diversidade das universidades, influenciados pelo rap e pela música negra em geral.
"A verdadeira essência do apelo de Obama é a idéia de que ele representa o idealismo racial --a idéia de que raça é algo que os EUA podem transcender", disse Shelby Steele, pesquisadora da Instituição Hoover da Universidade Stanford, ao "Wall Street Journal".
"É uma idéia muito atraente. Muitos americanos realmente gostariam de encontrar um candidato negro em quem poderiam votar tranqüilamente para presidente dos EUA", completa.
Em seu discurso sobre o tema, Obama falou que espera transcender as diferenças entre os povos para que juntos possam conquistar um futuro melhor para seus filhos e netos. "Essa crença deriva de minha fé inabalável na decência e na generosidade do povo dos Estados Unidos. Mas também deriva de minha história pessoal como americano".
Origens
Filho de Barack Hussein Obama, um homem negro do Quênia educado em Harvard e de Ann Dunham, uma mulher branca de Wichita, no Estado do Kansas, Obama fala de suas origens como as de um candidato "não convencional".
Ele nasceu em Honolulu, no Havaí, em 4 de agosto de 1961, e seus pais se separaram quando ele tinha dois anos. O democrata morou na Indonésia enquanto criança, após sua mãe se casar com um indonésio, e depois viveu no Havaí, com seus avôs brancos.
As idas e vindas deram, segundo sua própria opinião, as ferramentas necessárias para que pudesse se tornar um político hábil na hora de fazer coligações e traçar alianças.
"Ele se movimenta entre vários mundos", afirma sua meia irmã, Maya Soetoro-Ng. "É o que fez em toda a sua vida".
"Sou filho de um homem negro do Quênia e de uma mulher branca do Kansas. Fui criado com a ajuda de um avô negro que sobreviveu à Depressão e combateu no exército de Patton durante a Segunda Guerra Mundial, e de uma avó branca que trabalhou em uma linha de montagem de bombardeiros, em Fort Leavenworth, enquanto seu marido servia no exterior", descreve-se Obama.
Por sua família muçulmana, Obama enfrentou boatos de que seria também um muçulmano, religião que muitos americanos associam negativamente ao extremismo. Os boatos foram reforçados com a divulgação de uma foto na qual Obama aparece com trajes típicos em visita ao Quênia, onde sua família paterna mora.
Obama converteu-se, já adulto, ao cristianismo e é membro da Igreja Batista da Trindade Unida em Cristo, em Chicago. Sua equipe acusou a campanha de Hillary, sua rival à época, pela divulgação da foto.
"Tenho irmãos, irmãs, sobrinhas, sobrinhos, primos e tios de todas as raças e matizes, espalhados por três continentes e, por mais que eu viva, jamais me esquecerei de que em nenhum outro país do planeta minha história seria possível", afirma Obama, sobre sua história familiar.
Sua avó, Sara, tornou-se uma celebridade no Quênia após a conquista da nomeação. Ela recebe diariamente dezenas de jornalistas para quem declara o orgulho que sente do neto.
Em uma medida muito bem planejada de sua campanha, Obama prefere não utilizar o rótulo de presidente negro, tão citado por seus eleitores e pela mídia. Cauteloso, ele não quer ficar estereotipado como candidato de um único eleitorado e arriscar perder importantes grupos demográficos do país.
Sua adolescência no Havaí foi marcada não só por uma destacada trajetória escolar, mas também por anos de contravenção. Na época, Obama experimentou maconha e cocaína, conforme afirma em sua biografia "Dreams from my Father: A Story of Race and Inheritance" (Sonhos de meu pai: Uma história de Raça e Herança).
Como previa, a história veio à tona quando Robert Johnson, fundador da Black Entertainment Television e fiel apoiador de Hillary lembrou do episódio dias antes das primárias da Carolina do Sul.
Na época, ele se defendeu dizendo acreditar "que o americano médio sabe que o que alguém faz quando é adolescente, há 30 anos, provavelmente não é relevante em como vai desempenhar seu papel de presidente dos Estados Unidos".
Formação
Com um bom histórico escolar, Obama formou-se em direito na tradicional e renomada Universidade Harvard e trabalhou como professor e defensor dos direitos civis em Chicago antes de ser eleito senador por Illinois, em 2004.
Foi em Harvard que Obama conheceu sua mulher, Michelle, com quem se casou em 1992. Em uma campanha que prega o novo, Michelle é um dos triunfos de Obama. Negra e com formação universitária, Michelle é um cabo eleitoral importante de Obama entre as mulheres.
O professor de ciência política Bruce Newmann, da Universidade De Paul, aponta a participação de Michelle como fundamental para mostrar que Obama é um democrata dos novos tempos, que coloca sua mulher ao seu lado no palco dos eventos, e não apenas nos bastidores.
Obama e Michelle tem duas filhas. Malia, 9 e Sasha, 6 que aparecem na mídia apenas nos momentos de grandes conquistas, quando Obama garantiu a nomeação democrata.
Ajudado por seu carisma e retórica refinada, Obama ganhou popularidade ao longo da campanha e foi o candidato que melhor soube utilizar as ferramentas da internet
Inexperiência
Se há um ano poucos sabiam soletrar seu nome, hoje Obama está na liderança da disputa pela Presidência dos EUA. A pesquisa mais recente do canal NBC News e do jornal "Wall Street Journal" aponta que Obama tem 47% das intenções de voto contra 41% do republicano John McCain.
No começo de sua campanha, Obama brincava freqüentemente que o povo não se lembrava de seu nome. A própria rede de TV norte-americana CNN teve de fazer uma correção após confundir o nome do senador com o do terrorista de origem saudita Osama bin Laden, líder da rede Al Qaeda.
Chamá-lo de "Barack Osama", no entanto, não foi um engano cometido exclusivamente pela rede de TV. Outros políticos, principalmente da oposição, já erraram seu sobrenome algumas vezes.
Sua ascensão na corrida democrata deve-se muito às suas promessas de mudanças e o fato de não estar associado --como Hillary Clinton-- ao que chama de "velha política" de Washington.
Mas o argumento da inexperiência será, como apontam os analistas, o maior argumento da campanha republicana para atacar sua candidatura. McCain, aliás, já declarou inúmeras vezes que Obama não está preparado para governar os EUA e que fala de política externa sem ter experiência no assunto.

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